Um minuto com Diana Palmer - A Noiva do Rei - Leia

A Noiva do Rei
– Ahmed Ben Rashid e Brianna Scott –

(King’s ransom)
Diana Palmer
Série Night of love 2

Sinopse:

Quem era o estranho que se mudara para o apartamento de Brianna Scott?
Ahmed bem Rashid, que se dizia diplomata estrangeiro, estava em busca de um esconderijo seguro. O problema era que apesar de Brianna necessitar da ajuda financeira de Ahmed, não estava disposta a servir de escrava para nenhum sheik! Mas bastaram alguns dias de convivência para Brianna descobrir que, além de se comportar como um rei, Ahmed tinha o poder de fazê-la deixar-se levar apenas pelo coração, sem nunca ouvir a razão. E quando ele a pediu em casamento, não foi possível recusar. Mesmo não sabendo a verdadeira identidade do homem que seria seu marido!

- Esse foi o outro dos problemas. Houve um ataque terrorista da última vez em que a equipe árabe deixou o país. Depois dos elementos pertenciam ao próprio corpo da guarda. Os cuidados, agora, foram redobrados, no país, para que a comitiva possa voltar, sã e salva.
- Ahmed voltará com eles, não é?
Lang fez um movimento negativo com a cabeça.
- É muito arriscado. Sua identidade será mantida em segredo, por algum tempo de forma a protegê-lo e principalmente ao rei. Um de nossos homens se disfarçara como rei e será instalado no Hilton Hotel. Haverá guardas armados diante de sua porta, da escada e do elevador. Ele não terá permissão para sair de seu quarto. Será uma espécie de alvo para os terroristas. Em compensação, terá um tratamento digno de um rei, de verdade. Lautos desjejuns na cama, camarões e lagostas todas as noites. Eu me apresentei como voluntário. Não me importo em correr riscos. Os chefes, porém, não aceitaram. Acham que sou impetuoso demais.
As mulheres se esforçaram para conter o riso.
- De qualquer forma, o que não faltará a ninguém, até eles irem embora, será trabalho. E por falar no diabo, olhem que vem chegando.
Steven Ryker e Ahmed bem Rashid eram da mesma altura, e possuíam cabelos escuros e pele morena, também. Os olhos de Steven, porém, eram claros, enquanto os de Ahmed demonstravam sua origem árabe. Além disso, ele tinha um bigode.
- Sua secretária e eu estávamos saindo para almoçar - Meg explicou ao marido.
- Vá em frente, querida - Steven se inclinou e lhe deu um beijo rápido. - Eu ainda tenho um assunto para resolver. Bom apetite. Bom apetite para você também, Daphene.
- Você vai com elas? - Lang perguntou a Brianna com um olhar sugestivo.
Surpresa com o súbito interesse do agente, Brianna hesitou.
Lang sorriu e se virou para Steven.
- Podemos conversar?
- Vamos para minha sala. Até a noite, querida. Dê-me licença um minuto, Ahmed.
O grupo se afastando, Brianna voltou a se dedicar ao trabalho. Um minuto depois, contudo, sentiu uma sensação incômoda e ergueu os olhos.
O árabe havia permanecido ali.
- Deseja alguma coisa?
- Você insulta as pessoas, antes mesmo de falar. Em meu país, sua atitude seria punida com regime de pão e água.
- Eu preferiria passar a pão e água a jantar em um restaurante elegante com você.
- Como se eu pretendesse convidá-la! - o homem retrucou sarcástico. - Mulheres não me faltam.
- Ainda bem para você. Quanto a mim, tudo o que quero é que volte para o seu país o mais rápido possível.
Ahmed olhou-a da cabeça aos pés.
- Uma mulher, com um língua ferina como a sua, deveria se dar por feliz quando tem oportunidade de conversar com um homem. Aposto que é solteira.
- Sim. Minha expressão de felicidade me traiu?
Ele não pareceu apreciar o comentário.
- As mulheres árabes sentem-se honradas com o casamento e com os filhos, que são frutos dessa união.
- No meu país, as mulheres não precisam se casar e ter filhos se, se não quiserem. Também não precisam não precisam usar véus, nem fazer parte de um harém. Não são propriedades de seus maridos.
- Você não sabe falar sem proferir insultos - Ahmed acusou-a. - Sua indisciplina a impedirá de realizar um bom casamento.
- Depende do que você considera um bom casamento.

O árabe parecia disposto a continuar atacando-a, a julgar pelo seu olhar frio e cortante, mas Lang abriu a porta, naquele momento.
- Ahmed, poderia vir aqui, por favor?
Ele olhou para o agente e novamente para Brianna. Hesitava visivelmente em deixar o campo de batalha. Mulher alguma, ou melhor, pessoa alguma, tivera a capacidade de deixá-lo tão irritado em sua vida. As ameaças de morte, os terroristas, tudo era insignificante em comparação com o tratamento que aquela mulher lhe dispensava. O que ele mais queira era obrigá-la a tratá-lo com o respeito que merecia. As mulheres, em geral, se desfaziam em graça a fim de atrair sua atenção. Aquela, no entanto, se comprazia em desafiá-lo.
- Ahmed? - Lang insistiu.
Sem alternativa, ele atendeu ao chamado.

CAPÍTULO 2

Brianna não tornou a encontrar Ahmed aquele dia. Na manhã seguinte, porém, ele passou por sua mesa e lhe endereçou um olhar frio que chegou a arrepiada. Ela fez questão de retribuir. Se Ahmed bem Rashid a desprezava, esse sentimento era recíproco.
O homem era intrigante. Aliás, todos, no escritório, eram da mesma opinião. Ele fora apresentado como ministro de gabinete da república Árabe de Saudi Mahara. Mas sua arrogância e temperamento eram de um rei. O fato de Lang estar sempre por perto dele também era algo digno de nota. Para a CIA estar envolvida em seu esquema de proteção, o caso era significativo.
Ele estivera no escritório no dia anterior. Por que voltara?
Não era arriscado expor-se tanto, apesar dos numerosos guardas de segurança que o cercavam?
Brianna sorriu consigo própria. Pó ela, os homens poderiam prendê-lo em alcatraz como medida de precaução. Ali ninguém o encontraria. Seria bem feito!
- Não tem nada para fazer, Brianna? Perguntou Steven Ryker, às suas costas.
- Certamente que tenho Sr. Ryker - ela respondeu, corada. - Estava apenas...
- Procure disfarçar, por favor. Está olhando para nosso visitante como se quisesse fulminá-lo. Ele também não gosta de você, mas não dá tanta demonstração.
- Como não? Ele me insultou! Ele me fez chorar!
- Foi um mal-entendido. Afinal, cá entre nós, quase provocou um incidente internacional - o presidente da empresa lembrou com um sorriso.
Brianna ajeitou os cabelos escuros e curtos e sorriu, também.
- Você é um caso sem esperança - Steven caçoou. - Veja se para de encará-lo. Ahmed é um de nossos melhores clientes.
- Ele está comprando aviões bélicos.
- O governo dele é que está - Steven corrigiu.
- Dá no mesmo. Mas, porque ele voltou aqui, hoje?
- É confidencial - Steven respondeu. - Você sabia que explodiram o jatinho em que ele deveria ter viajado, ontem à noite?
- Quem? - Brianna indagou os olhos arregalados.
- Não sabemos. Por sorte não havia ninguém a bordo. O piloto estava atravessando a pista para embarcar, quando aconteceu. Nosso governo decidiu mate-lo aqui para protegê-lo.
Brianna cerrou os dentes. A situação estava se agravando mais e mais. Teria sido horrível se os conspiradores houvessem atingido seu alvo. Da primeira vez, Meg, Steven e Daphne poderiam ter morrido com ele.
- Ainda bem que os terroristas não sabem exatamente como é Ahmed. Aqueles que poderiam reconhecê-lo encontram-se em Saudi Mahara, sob custódia.
- A CIA pretende levá-lo para Washington?
- Por que razões fariam isso? - perguntou uma voz divertida.
Brianna e Steven se voltaram para o recém-chegado. Era Lang. O agente secreto havia salvado Meg, certa vez, das garras de uma quadrilha de seqüestradores, mas Steven ainda se ressentia da forma como ele a salvara. Para Steven, Lang não passava de um conquistador barato no eu dizia respeito às mulheres.
- Olá, Lang. Como vai o espião mais impertinente do mundo?
- Bem - respondeu o outro, com um sorriso malicioso.
- Oi, Brianna, que acha de almoçarmos juntos? Ou prefere ir direto ao assunto e se casar comigo?
- Você se aplicaria uma tinta invisível, como nos filmes, se eu aceitasse.
- Provavelmente. Por que não tenta?
- Não, obrigada. Tenho muito trabalho para fazer.
- Pare um pouco e venha comigo. Você, também Steven.
- O agente os conduziu à sala de reuniões, detendo-se por um instante antes de abrir a porta. - Encontramos o lugar perfeito para esconder Ahmed. É seguro e fantástico. O último lugar no mundo, onde alguém poderia pensar em procurá-lo.
- Onde? Eu posso saber? Brianna indagou.
- Junto da sua maior inimiga, é claro - Lang a fitou significativamente.
Brianna sentiu que corava. O agente não poderia estar se referindo a ela, podia?
- Entrem. E eu explicarei.
Ahmed estava de pé, junto à janela, a mão cruzada nas costas. As feições aristocráticas se contraíam ao depararem com Steven e Brianna. Os olhos negros pareceram se incendiar ao vê-la.
- Ahmed, veja quem eu trouxe: a prima com qual passará a morar em seu disfarce de imigrante pobre.
Brianna se beliscou para se certificar de que estava acordada.
Ahmed olhou estupefato para o agente. Steven sufocou o riso.
- Eu não vou morar com essa cobra! Prefiro mil vezes se levado para o zoológico!
- Concordo plenamente com a decisão - afirmou Brianna, olhando para Lang. - Moro sozinha. Sou solteira. Não quero um homem em minha casa. Além disso, não gosto dele.
- Todos estão cientes disso. È por esse motivo que não pensarão em procurá-lo em seu apartamento. Para completar, nós lhe daremos as credenciais de um trabalhador itinerante mexicano. Ahmed será um primo seu, de Chihuahua, que perdeu seu emprego no Texas e precisa de um lugar para ficar até arrumar uma nova colocação.
- Eu não tenho nenhum primo em Chihuahua!
- Acabou de ganhar um - Lang declarou.
Brianna apertou os punhos.
- Eu nunca recebo visitantes do sexo masculino. Minha reputação ficará abalada.
- Um parente não pode ser considerado uma mácula na reputação de ninguém. Além disso, vocês estarão sob vigilância constante.
- Não!
Lang se aproximou com gesto conciliador.
- Você tem um irmão de doze anos que precisa de tratamentos médicos intensivos. Seu seguro hospitalar está para vencer. Caso não consiga renová-lo, o menino terá de ser removido da casa de saúde em que se encontra.
Brianna sentiu um aperto no peito.
- Como você descobriu?
- Sou um agente secreto, lembra-se?
- O que está tentando me dizer?
- Se você no ajudar, nós a ajudaremos. O governo de Ahmed está disposto a arcar com todas as despesas do tratamento até a eventual reabilitação do seu irmão.
O mundo parecia ter desabado sobre Brianna tal a fraqueza que se apoderou de suas pernas, obrigando-a a sentar. Tad era o único membro da família que lhe restara, após o acidente automobilístico que levara seus pais. Adorava-o. Por ele faria qualquer sacrifício, até mesmo suportar a presença de Ahmed em seu apartamento.
-Pense - Lang aconselhou - Tem um dia para se decidir. Não podemos esperar mais. Caso recuse nossa oferta, precisaremos encontrar um outro esconderijo para nosso hóspede.
- Quanto tempo ele ficaria morando comigo, caso eu concorde? - Brianna indagou com um fio de voz.
- O tempo seria relativo. Um dia, dois, uma semana, quem sabe? Só poderemos respirar tranqüilos depois que os elementos forem capturados. Em nossa opinião, isso não deve demorar a acontecer. Temos certeza de que, em breve, os assassinos voltarão a Wichita. Isso se já não estiverem por aqui. Eles haviam sido presos em Saudi Mahara, mas escaparam. Estamos só esperando que dêem um sinal de vida, para atacarmos.
- E se eles desistiram da perseguição?
- Nesse caso poderá se livrar de seu hóspede mais cedo embora às despesas hospitalares do seu irmão continue a serem pagas.
Brianna baixou os olhos. Tinha certeza de que se arrependeria de sua decisão. Viver com um homem como Ahmed seria uma tortura.
- Amanhã virei saber a resposta. Até lá, pense bastante.
- Lang observou.
- Não preciso pensar - Brianna retorquiu, os olhos fixos no agente. - Não posso recusar sua oferta. Você sabia que eu aceitaria desde o princípio.
- O brigado pelo elogio. Fico satisfeito. Sua resposta significa que fiz bem o meu trabalho.
- Não me submeterei aos caprichos dele. Não serei sua escrava - Brianna acrescentou.
- Não se preocupe - Ahmed respondeu imediatamente.
- Minhas exigências para a contratação de serviços são muito elevadas.
- Eu digo o mesmo com relação aos meus hóspedes. - ela retrucou furiosa. - Não tente me dar ordens. Minha rotina não será interrompida ou mudada por sua causa.
O árabe deu de ombros.
- Minhas necessidades são poucas.
A resposta deveria tê-la tranqüilizado, mas não foi o que ocorreu. Algo naquele tom de voz, algo que estava por trás da expressão impassível, a fez sentir-se perturbada.
Não se enganou. Ahmed se mudou naquele mesmo dia, juntamente com uma enormidade de malas, baús e alguns móveis.
Em sua companhia apresentaram-se Lang e mais dois homens.
- Excelente - Brianna zombou, colocando-se de lado, na porta do apartamento, para que os carregares passasse. A movimentação havia despertado a curiosidade dos moradores do prédio, que abriam suas portas para verificar o que estava acontecendo - Simplesmente excelente. Por que não pregaram um anúncio luminoso na entrada informando o número do apartamento que estava recebendo as ilustres figuras?
Lang sorriu.
- Somos pobres vaqueiros. Não reparou em nossas roupas?
Como poderíamos ter dinheiro para gastar com anúncios?
Brianna examinou-os da cabeça aos pés. Bem, eles realmente se pareciam com trabalhadores humildes. Nenhum deles se apresentava como costumeiro paletó e gravata, inclusive Lang, que vestia o jeans mais desbotado que ela já vira, e botas gastas. Ninguém poderia adivinhar que era uma gente secreto.
Lang interceptou seu olhar de aprovação e sorriu.
- É o último lançamento em disfarce para espiões. Nesta manga - ele ergueu o braço -, está instalada uma câmara de TV. Na outra, um teleguiado em miniatura.
- O que mais me admira é que você ainda não tenha perdido esse emprego - Brianna comentou.
- Eles não podem me dispensar
- Eles não podem me dispensar - Lang informou baixinho.
O tenho uma tia no Congresso e um tio no gabinete da presidência.
- Estou impressionada.
- Eu também. Tenho tento orgulho de minha família que vivo falando deles aos meus chefes em Washington.
- Era de se esperar.
Conforme ele riu, Ahmed surgiu de trás dos carregadores e olhou para ela com desdém, as mãos apoiadas nos quadris.
- Imaginem o que terei de me ajustar. Poe Alá, uma renda no meio do deserto seria mais confortável.
Brianna sentiu vontade de mandar o árabe voltar de onde viera, mas Lang percebendo essa intenção, a puxou de lado.
- Calma. Ele apenas não está acostumado ao padrão dos apartamentos americanos. Dê-lhe um pouco de tempo para se ajustar.
- Pois eu nunca conseguirei me ajustar a ele. Sete dias na companhia desse homem representará a exploração máxima de minha paciência.
- Haverá compensações, lembre-se. Todas as contas do seu irmão serão pagas. Acho que o sacrifício não será tão grande, se você pensar nesse fato.
- Tem razão - Brianna foi obrigada a concordar. - Você não pode calcular o quanto eu estava preocupada. Tad é muito especial para mim.
- O nome dele é Tad?
- Timothy Edward, mas eu sempre preferi chamá-lo pelo apelido.
- Ele tem onze anos, não?
Brianna fez um gesto afirmativo com a cabeça.
- Era tão pequeno quando nossos pais morreram...
- Nunca perca a esperança - Lang murmurou sinceramente penalizado. - Já presenciei muitos milagres. Até os médicos acreditam que eles acontecem.
- Acho que sim. Mas após três anos, as esperanças começam a enfraquecer.
Lang lhe deu uma tapinha no ombro.
- Acabará sendo bom para você ter alguém que lhe faça companhia por uns tempos. Quando conhecer Ahmed melhor, verá que não é tão mau quanto pensa.
Brianna o encarou com firmeza.
- Ao menos lhe dê uma chance - Lang contemporizou.
Subitamente, um dos homens entrou na sala com um equipamento eletrônico.
- O lugar está completamente limpo.
Brianna se aproveitou do momento de distração do agente para espiar em sua manga.
- Eu estava brincando sobre a câmara de TV. - Lang riu. - E talvez tenha exagerado um pouco sobre o míssil.
- Assisti a um filme onde havia um aparelho de fibra ótica semelhante a esse - Brianna explicou. - Fiquei impressionada.
- Terei um da próxima vez que a visitar.
- A propósito - Brianna indicou o árabe -, Como deverei chamar o homem?
Lang tirou do bolso uma carteira de identidade novinha, uma carta de motorista, um passaporte e uma autorização temporária de permanência no país, todos destinados a agraciar os bolsos de seu hóspede.
- Pedro Rivera, idade 36 anos, nativo de Chihuahua, México, profissão agricultor.
- Ele irá trabalhar realmente como agricultor sob esse disfarce? - Brianna indagou, maliciosa.
Lang riu como se ela tivesse dito uma grande piada.
- Ahmed? Não, ele acaba de perder o emprego, e precisa de outro com urgência. Enquanto não consegue uma nova colocação, terá de contar com sua ajuda e abrigo. Nós providenciaremos para que ele trabalhe duro. Seu nome constará de todas as listas de candidatos em todas as empresas do ramo.
- Você poderia lhe arrumar um emprego de tradutor - Brianna sugeriu.
-Não.
- Por que não? - Os olhos azuis assumiram uma expressão de surpresa.
- Bem é que Ahmed não fala espanhol.
- Nem uma palavra? Que interessante! Um agricultor mexicano que não fala espanhol.
- Ele afirma que seu sotaque é horrível e se recusa a falar nessa língua. Mas seu francês é muito bom.
- Então por que não lhe arrumou essa cidadania?
- É uma história muito comprida. Confie em mim. O plano dará certo. É quase perfeito.
- Assim como o Titanic era um navio mais seguro do mundo e afundou.
- Você é uma pessimista - Lang acusou. - Pro que não pensa no bem que está fazendo a seu país?
- Abrigando um oficial de gabinete de um país árabe em meu apartamento? Em que isso poderia ajudar minha pátria?
- O país de Ahmed conta com uma localização estratégica de grade valor para nós - Lang explicou. - O Oriente Médio é como uma carga de dinamite pronta para explodir a qualquer minuto. Todas as facções lutam por seu controle. Todo o mundo depende do petróleo existente lá.
- Isso não deveria acontecer - ela observou.
- Eu sei, mas o fato permanece. A verdade e que dependemos do petróleo estrangeiro se quisermos continuar investindo no progresso da nossa tecnologia. Dessa forma, precisamos cuidar muito bem desse povo para garantir a continuidade do fornecimento. Ahmed é uma das pessoas que precisamos satisfazer.
- Eu sempre pensei que houvesse um rei naquele país. Por que você não se preocupa mais com ele do que com Ahmed?
- Se Ahmed se sentir feliz, o rei estará feliz.
Brianna deu de ombros.
- No meu caso, só interessa o dinheiro que ele me proporcionará. De outro modo, poderiam fritá-lo e servi-lo sobre um leito de alface.
- Que idéia! Em pensar que eu a considerava um doce de criatura!
- Eu era , até você e aquele árabe arrogante invadiram minha vida!
Lang precisou morder o lábio. Em outra ocasião teria rido, mas Ahmed ouvira o comentário e não deixara por menos.
- O que foi que disse?
- Que esperava que se sentisse confortável aqui. Farei um jantar especial esta noite.
- Nada de churrascos e assados, por favor - O agente sussurrou.
- Na verdade, estava cogitando em algo mais apropriado.
Um prato mexicano típico. Chili, por exemplo. Feijão frito, pimentão...
Ahmed sorriu pela primeira vez.
- Você gosta de comidas condimentadas?
- Muito - o árabe respondeu.
Brianna hesitou. Da próxima vez precisaria se lembrar de cozinhar um macarrão sem sal.
- Acabaram? - Lang perguntou aos colegas.
- Sim. Está tudo em ordem.
- Vocês instalaram microfones e câmaras ocultas em meu apartamento, por acaso? - ela indagou, desconfiada. - Pretendem nos espionar?
Ahmed a fitou de um modo apreciativo.
- Está com medo de que eles tenham “algo” muito interessante para ver?
Ela não teve alternativa a não ser cerrar os punhos e tentar visualizar as contas médicas em sua mente.
- Preferia roer minhas unhas.
- Não duvido. Com uma boca como a sua...
Lang achou melhor intervir.
- Ele é seu primo querido. Você o adora. Cuidará bem dele porque é isso que seu país pede que faça.
- Não entendo por que você não pode abrigá-lo.
- Eu o faria com prazer, acredite. - Mas preciso ir ao Texas, neste fim de semana, visitar meu irmão e sua família.
- Por que não o leva consigo? Há muito mais mexicanos no Texas do que em Wichita.
- Oh, mas eu detestaria privá-los da oportunidade de se conhecerem melhor. Além disso, meus planos para o final de semana da poderão mudar.
- O par se encarou com hostilidade. Lang se afastou rapidamente da linha de fogo.
- Vou deixá-los. Tenho certeza de que você será bem cuidado, Ahmed.
- E quanto aos meus seguranças?
- Eles estarão por perto, assim como nosso pessoal. Lembre-se de não se expor desnecessariamente. Procure sair o mínimo possível do apartamento. Mantenha-se aqui enquanto Brianna dor trabalhar. Caso resolva ir a algum lugar, diga em voz alta o nome, que será seguido.
- Isso é ultrajante - Ahmed protestou. - Não vejo por que tenha de abrir mão de toda a minha privacidade, se tenho meus próprios seguranças.
- Encontra-se em solo americano - Lang declarou. - Neste país, nos sentimos responsáveis pelo bem-estar dos representantes estrangeiros. Assim sendo, por favor, colabore conosco e permita que façamos nosso trabalho.
- Ahmed respirou fundo. Em seguida se dirigiu a janela e ali permaneceu, olhando para fora, como se já tivesse se sentindo confinado.
- E não passe muito tempo na janela - Lang observou.
- Torna-se um alvo excelente. Não temos condições de vigiar cada janela em cada prédio ao redor.
- Ahmed se afastou e fez sinal de concordância. Lang se encaminhou para a porta. Quando estava se despedindo, Ahmed o interrompeu.
- Quem desfará as malas? E quanto aos meus criados?
Lang hesitou. O olhar de Brianna não deixava dúvidas.
- Veremos esse detalhe mais tarde, esta bem? Tenham um bom dia.
- Fui apunhalada nas costas pelo me próprio governo - Brianna se queixou assim que o agente se foi. - Não espere que o deixe cravar a faca mais funda. Não sou sua escrava. Não desfarei suas malas. Você tem duas mãos perfeitas. Pode muito bem fazer esse trabalho sozinho.
Ele cruzou as mãos atrás das costas, como de costume e não respondeu. A intensidade de seu olhar a deixou tensa.
- Vou preparar alguma coisa para comermos.
- Quero coquetel de camarão como entrada. Para acompanhar a refeição mexicana, um vinho de Bordeaux.
- Escute aqui. Não tenho uma farta despesa e muito menos uma adega no apartamento. Bebo ocasionalmente um licor ou um copo de vinho branco. Não entendo de vinhos.
- Uma falha pequena. Poderá aprender a respeito.
- Não me interessa esse tipo de conhecimento. Prefiro me poupar o trabalho de colocar um árabe embriagado na cama.
Quanto ao coquetel de camarão, meu orçamento não permite extravagâncias. Ganho bem, mas as contas são muitas.
No final, quase não sobra nada para supérfluos. Você terá de se contentar com o que posso lhe servir.
Ahmed suspirou e balançou a cabeça.
- Do caviar aos queijos suíços a isto! Que decadência!
Brianna se encaminhou para a cozinha, praguejando.

CAPÍTULO 3

Brianna foi visitar o irmão naquela noite, deixando Ahmed sozinho e queixando-se da falta de TV a cabo no apartamento. Ele não lhe perguntou para onde iria e ela não se preocupou em informá-lo.
Sentada ao lado do irmão, como fazia quase todas as noites, Brianna beijou o rosto tão parecido com o seu. Os olhos de Tad estavam fechados. Quando se abriam eram azuis, também. Parecia fazer tanto tempo que não o via rir nem brincar. Oh, Deus, quando ele voltaria a ser um menino como outro qualquer?
De vez em quando, sentia-se desiludida. Em uma ocasião o médico chegara a sugerir que desligassem os aparelhos que o mantinham vivo, mas Brianna se reusou. Não queira perder as esperanças. Não depois de lhe contarem que o cérebro de Tad continuava funcionando. Sabia que ele não sentia dores e que estava se alimentando através de soros. Não iria desistir.
Conversava sempre com ele. Pegava sua mão e lhe contava todas as novidades. Falava sobre sua vida, sobre seu emprego.
Mas não lhe contou sobre Ahmed. Aquele era seu primeiro segredo para o irmão. Preferiu comentar sobre seus planos de redecorar o apartamento e principalmente o quarto de hóspedes que logo lhe pertenceria.
Quando voltou para casa exausta e deprimida, Ahmed já havia se recolhido. Ela foi diretamente para o quarto e movida por um impulso, trancou a porta antes de dormir.
Ao entrar em casa no final da tarde, após um dia cheio de atribulações, surpreendeu-se ao ouvir um forte barulho vindo de seu quarto. Parecia que o teto iria desabar.
A surpresa se tornou ainda maior quando chegou até a porta e viu quatro homens morenos, em trajes formais, desfazendo as malas de Ahmed. Para acomodar os pertences do amo, haviam esvaziado todos os armários. Suas próprias roupas estavam empilhadas sobre cadeiras e sobre a cômoda.
Ela deixou a bolsa cair e arregalou os olhos.
- O que pensam que estão fazendo?
- Eles estão arrumando minhas coisas - respondeu Ahmed, sentando confortavelmente na sua poltrona. - O quarto de hóspedes é muito pequeno. O armário mal comportaria meus ternos.
- Este quarto é meu! - ela protestou. - Você não pode invadi-lo!
- Sou seu hóspede. Tem por obrigação me acomodar.
- Eu exijo que esses homens saiam daqui.
Ahmed murmurou algumas palavras em árabe e os homens se detiveram. Um deles lhe pediu desculpas. Dali a um segundo estavam de volta às atividades.
- Eu tenho de sair todos os dias para trabalhar. Não posso usar roupas amassadas.
- Suas roupas não me interessam. Minha aparência é muito mais importante.
Brianna contou até dez, depois até vinte. Não adiantou.
- Mande seus homens saírem daqui imediatamente! - gritou. - Saia você, também.
Ahmed a ignorou, assim como os homens.
- Você não pode tomar posse do meu quarto!
- Já disse que o quarto de hóspede não serve. O colchão está encaroçado. Não tenho a menor intenção de dormir mais uma noite em uma cama tão horrível.
- Por que não liga para o presidente e pergunta se pode se hospedar na Casa Branca?
- A ocasião não é propícia.
Ela encarou-o e aos homens. Todos a ignoraram. Abaixou-se, recolheu a bolsa e foi para a sala. Ao menos aquela parte do apartamento continuava intacta.
Os homens se foram e Ahmed se apresentou com um cáftan branco e dourado. Parecia mais oriental do que nunca. Aquela visão afetou-a. Pela primeira vez pensou na situação deles, sozinhos, um homem e uma mulher.
No dia anterior o problema não lhe parecera tão grande. Saíra à noite e não o vira antes de dormir. Pela manhã, saíra cedo para o trabalho e não o vira, novamente.
- Você precisa tomar alguma providência com relação aos canais da TV. São muito poucos. Eu quero ter acesso aos canais franceses. Outra coisa. Preciso de um fax. Como poderei estar em contato com o gabinete do meu país sem um? Oh, e preciso também de uma linha telefônica particular.
Brianna encarou-o em silêncio. O homem continuava sem entender que não se encontrava diante de uma milionária.
- E essas plantas - ele acrescentou, apontando para um filodendro e para uma samambaia - Elas fazem o lugar parecer uma floresta tropical. Prefiro do deserto. Fazem-me sentir em casa.
- Providenciarei vasos de cactos venenosos e cobertos de espinhos o mais rápido possível.
Os olhos negros se estreitaram. Ahmed tinha uma maneira de olhar que transcendia a arrogância.
- Você zomba de mim. Poucos tiveram essa ousadia.
- O que pretende fazer? Mandar cortarem minha cabeça?
- Eu... Nós abolimos essa lei há alguns anos. Depois que passamos a cultivar um bom relacionamento com os ocidentais, não seria uma política favorável continuarmos rígidos nos nossos costumes.
- Brianna não podia acreditar que fosse verdade, mas preferiu não prolongar o assunto.
- Vou preparar um lanche. Nada de camarões nem de vinhos. Tenho salsichas.
- Salsichas?
- Adoro cachorro quente com chili - ela afirmou.
- Você serviu chili no jantar de ontem.
- Isso mesmo. Comeremos os cachorros quentes com o molho que sobrou. Não sou de jogar comida fora. Quando sobra pão, faço torradas ou pudim. Não posso me dar ao luxo do desperdício.
Não adiantou explicar.
- Já ouviu falar em cartões de crédito?
- Já e estou em meu limite. Usei-o para comprar um colchão novo para minha cama.
- Que limite é esse? Nunca tive limites.
- Por que o fato não me surpreende? - Brianna ergueu os olhos para o teto.
- Eu comerei batata no lugar do cachorro quente. Gosto que a manteiga seja ligeiramente queimada antes de ser despejada por cima.
Com calma, Brianna apanhou uma panela, encheu-a com água e colocou duas salsichas para ferventar. Em seguida uma batata e levou-a para sala.
- Aqui está. Batata instantânea. Descasque-a e cozinhe-a. Depois frite a manteiga e regue.
Terminadas as instruções, Brianna foi para o quarto e bateu a porta.
Quando voltou, Ahmed havia sumido. A batata jazia sobre a mesa da cozinha e a porta do quarto de hóspedes estava fechada. Seu telefone não se encontrava sobre a mesinha ao lado do sofá. O que o árabe podia estar aprontando?
- Faça o favor de ligá-lo na tomada! - Brianna ordenou ao ver Ahmed se sentar.
- Para quê? É muito mais prático usá-lo no quarto. Além disso, estou cansado e faminto. Meu almoço foi um simples hambúrguer da lanchonete da esquina.
- Com fritas? - ela perguntou sem se deixar intimidar ou se sentir culpada - Eles fazem ótimas batatas fritas.
- Detesto batatas fritas.
Mais um prato para o cardápio, Brianna pensou, maliciosa.
Recheou o cachorro quente com bastante mostarda e catchup e deu uma mordida.
- Sobrou uma salsicha. Você quer?
O árabe a fitou com desdém.
- Morra de fome, então.
Mal ela acabara de dar a segunda mordida, a campainha tocou. Ahmed se levantou como se tivesse sido impulsionado por uma mola.
- Sim? - perguntou através da porta, abrindo-a assim que ouviu palavras em árabe.
- Ficou louco? Não pode abrir a porta! E se fossem os homens que estão atrás de você? - Brianna gritou.
- Tratam-se dos meus homens. Acha que não sou capaz de reconhecê-los?
Ela pensou em argumentar, mas se decidiu em contrário.
Ganharia mais comendo seu cachorro quente em paz. Só que a paz não durou muito. A comitiva invadiu seu apartamento trazendo iguarias dignas de um rei, mas que se destinavam apenas a Ahmed. Em seguida se retiraram, sem uma única palavra de agradecimento.
O árabe esfregou as mãos e aspirou, deliciado, o aroma da lagosta, legumes frescos e pães quentinhos.
- Pode me acompanhar se quiser - ele ofereceu.
Ela deu outra mordida no sanduíche.
Ahmed conteve um sorriso. A jovem era orgulhosa. Apesar de não ser muito bonita, sua personalidade o atraía. Talvez lhe comprasse um carro quando a charada fosse resolvida.
- Você fala como se fosse um profeta citando o alcorão. Não sei se estou enganada, mas acho que alguém comentou alguma coisa sobre você ter sido criado como um cristão.
- Eu fui, mas respeito à religião do meu povo.
A atenção do árabe se voltou novamente para a sobremesa que estava terminando. Em seguida se levantou e se sentou no sofá. As sobras do jantar se espalhavam por toda a mesa e também sobre o aparador. Brianna, que já estava cansada, olhou a cena com repulsa.
- Pode levar a louça - ele fez um gesto como se estivesse lhe concedendo uma honra.
- Leve você! Esta casa é minha. Ninguém me dá ordens em minha própria casa. Não sou sua criada!
- Você é minha senhoria - ele retrucou imperturbável.
- Não pode negar que está sendo regiamente paga em troca de sua hospitalidade.
O lembrete a levou até Tad. Não, podia. Ahmed não lhe dera nenhum dinheiro, mas seu governo se responsabilizara pelo pagamento de todas as despesas do irmão. A necessidade de adaptação era dela. Precisava se esforçar. Era possível que a permanência do árabe se encerrasse em poucos dias. O pensamento animou-a. Jogou fora os restos de comida e lavou a louça.
- Eu gostaria de tomar um capuccino - Ahmed murmurou depois de mudar pela centésima vez os canais da TV. - Doce, mas não doce demais.
- Não sei fazer capuccino.
- Não sabe fazer capuccino? - O espanto do homem não teria sido maior se ela tivesse cometido um crime.
- Não. O que é?
- Você deve estar brincando.
Ela negou com um movimento de cabeça.
- É algum tipo de bebida?
A expressão de Ahmed se suavizou. A jovem era simples e ingênua sob a aparência de força e determinação. Ele se aproximou e segurou-a pelo braço. O gesto a deixou nervosa.
- É um café com creme batido, açúcar e canela. Eu gosto.
- Sinto muito, mas não sei fazer.
O toque daquele homem a perturbava. Assim mesmo, ou justamente por causa disso, ergueu os olhos e enfrentou-o.