Um minuto com Diana Palmer - A Noiva do Rei - Leia Parte 3

Ela fechou a porta e se sentiu aliviada por ter conseguido se manter fria. Lang não deveria saber que Ahmed já a descobrira como mulher. A lembrança da noite a fez estremecer. Precisa tentar tirar aquele homem de sua cabeça. O que acontecera entre eles não deveria se repetir.
- Que tal uma xícara de café? - ela ofereceu, no esforço de quebrar o silêncio.
- Lang está atraído por você - Ahmed comentou em poucas palavras. - Está acostumado ao perigo e não desistirá facilmente.
- Eu percebi, mas não estou interessada nele além da amizade.
- Eu aceito a xícara de café.
- Obrigada Brianna repetiu. - É educado agradecer quando uma pessoa se oferece para servi-lo.
O cenho de Ahmed continuou franzido.
- A cortesia valoriza as pessoas. Você poderia tentar usá-la.
Ele não respondeu. Brianna foi para a cozinha e preparou o café. Quando voltou à sala e colocou a bandeja sobre a mesinha, Ahmed ergueu os olhos para ela.
- O brigado.
Brianna sorriu.
- De nada.

CAPÍTULO 6

Lang realmente não veio jantar. Mais tarde, quando Ahmed se ofereceu para acompanhá-la ao hospital, o agente ainda não havia aparecido. Brianna achou melhor se preparar para o rosário de reclamações.
Assim que se sentiu espremido no carro minúsculo, conforme ela antecipara, ele não parou de se queixar enquanto não chegaram.
- Se detesta tanto meu carro, porque insiste em vir comigo?
- Ela indagou, zangada.
- Porque é perigoso uma mulher sair sozinha à noite em qualquer lugar do mundo.
Ele se preocupava com ela. A constatação a fez se sentir mimada, protegida. Fitou-o e sorriu. Ahmed lhe fez um carinho. Mas ao perceber que Brianna procurava se inclinar para prolongar o contato, ele recuou.
- Você me perturba. Não posso me entregar a essa fraqueza.
Ele desceu do carro e esperou-a. Em seguida a soltou até a entrada do hospital. No primeiro trecho, segurou-a pelo cotovelo. Depois seus dedos forem descendo até se entrelaçarem aos dela.
Ela parou incapaz de resistir às sensações explosivas que a engolfavam. Ele a fitou, as mandíbulas cerradas, deixando-se invadir pelas mesmas sensações. Seus dedos apertaram os dela e suas palmas se uniram. Por longos minutos, permaneceram na calçada, sob a luz da rua, simplesmente se devorando com os olhos.
- Não deveríamos - ele sussurrou rouco. Mas se aproximou mais até encostar seu corpo ao dela.
- Não... - ela confirmou, apoiando o rosto no peito dele e sentindo seu perfume embriagador.
A mão a libertou. Os braços se ergueram lentamente e a envolveram. Então ele se inclinou e apoiou o queixo sobre o alto da cabeça. Embalou-a em um doce movimento cheio de paz. Quando a soltou, ela precisou segurar-lhe a mão para não cair. De mãos dadas, portanto, seguiram para o elevador.
Ele esperou na anti-sala. Seus olhos fixos no carpete não viam nada. Brianna estava se tornando importante demais em sua vida. Temia não conseguir mais se separar dela e sabia que isso seria necessário. Era estranho que Brianna pudesse ter despertado sentimentos tão fortes nele, quando todas as outras mulheres que conhecera haviam falhado nesse sentido. Sentia ternura por Brianna. Um sentimento novo. Nunca sentira ternura por outro ser antes.
Quando ela voltou, sentiu-se ainda mais perturbado. Precisaria se vigiar e não se aproximar demais. Foi difícil, mas conseguiu. No apartamento, alegou cansaço e se fechou no quarto de hóspedes.
Brianna estranhou a súbita mudança de atitude. Sabia que Ahmed era imprevisível, mas não a esse ponto. De repente, comportava-se como se não quisesse mais vê-la.
Na manhã seguinte, depois de se vestir e ir à cozinha para preparar o desjejum, ouviu-o falar com Lang ao telefone. O que Ahmed dizia a deixou paralisada.
- Estou dizendo, não posso mais ficar aqui! A situação está se tornando insuportável. Você precisa arrumar outro lugar. - silêncio. - Fale com eles, então. Eu espero uma solução e não um pedido de desculpa.
Quando Ahmed bateu o telefone, Brianna correu para o quarto, quase em lágrimas. Não podia entender porque Ahmed não queria mais ficar com ela. Teria medo de que fosse envergonhá-lo, atirando-se a seus pés e dizendo que o amava? Esse procedimento só poderia ter uma resposta. Ela demonstrara o que sentia, na noite anterior, quando o abraçara e se abandonara à sensação de paz e conforto. Como pudera ser tão fraca? Ele a atraía lhe despertara sensações novas. Desejava-o. Mais do que isso. Gostava dele.
Mirou o rosto pálido no espelho. Não podia se desesperar. Precisava preparar o café da manhã, ir para o escritório e não permitir que o fato destruísse sua vida. Tinha Tad em quem pensar.
Com esse pensamento firme em mente, maquiou-se para disfarçar a palidez e saiu do quarto. Ahmed estava sentado o sofá.
- Preparo alguma coisa em um minuto para comermos.
- Não é necessário. Não estou com fome.
- Sirva-se, quando quiser - ela ofereceu, enquanto vestia o casco e apanhava a bolsa.
- E você? Vai trabalhar sem comer ao menos uma torrada?
- Também não estou com fome - replicou sem fitá-lo.
No topo da escada, ela se deteve. Sentia-se péssima. Agora a situação estava pior do que no início, quando discutiam a todo instante. Agira Ahmed não podia sequer suportar ficar sob o mesmo teto que ela.
- Brianna? - ele a chamou conforme descia o primeiro degrau.
- O que foi?
- Não é saudável sair de casa sem se alimentar, quando se tem o costume.
- Posso cuidar de mim mesma sozinha, obrigada.
Coma alguma coisa quando chegar ao trabalho, então. Deve haver um café por perto.
- Comerei quando sentir vontade.
Os olhos escuros acariciaram-na como se fossem mãos ávidas. Ela corou. Em seguida ele entrou no apartamento e fechou a porta.
Lang passou pela empresa por volta do meio-dia. Seu interesse era grande demais para um observador casual.
- Você andou chorando e não preciso de três chances para adivinhar o motivo.
- Ele que se livrar de mim - ela esbravejou - E eu também quero me livrar dele. Detesto que critiquem minha comida!
- Ahmed está querendo protegê-la - Lang comentou.
Brianna ergueu os olhos, sem entender.
- É algo inconsciente, mas Ahmed está tentando afastá-la da linha de fogo. Acredita que você está em perigo por estar junto dele, mas nós não deixaremos que nada de mal lhes aconteça. Eu avisei-o de que a mudança repentina não resolveria o problema. Poderia até aumentá-lo.
- O que ele respondeu? - Brianna indagou, tentando parecer desinteressada.
- Que você não pode ser prejudicada, custe o que custar.
- É um gesto bonito da parte dele - Brianna murmurou.
- Quando o ouvi ao telefone, não foi essa a impressão que ele deu.
- Ahmed está com muitos problemas na cabeça.
- Só pode estar. Espiões e assassinos o seguindo por toda a parte!
- Além de sua segurança pessoal.
- Exatamente.
- Mas você não está acreditando em mim, está? Acha que inventei essa desculpa para mantê-la em nossas boas graças.
- Os espiões são todos iguais. Suas missões estão acima de tudo.
- Bem, talvez eu tenha exagerado um pouco - Lang confessou. - Mas não muito. Continuo acreditando que a principal preocupação de Ahmed é seu bem-estar.
- Não foi isso que ele disse ao telefone.
- Você está certa.
- O que foi então?
- Que acabaria subindo pelas paredes se eu não o tirasse de seu apartamento nos próximos dois dias.
- Ele não seria o único! - Brianna retrucou, para se arrepender em seguida ao notar o olhar desconfiado do agente.
- Verei o que posso fazer - ele prometeu.
- Obrigada, Lang.
- Até lá, lembre-se de usar pijamas à noite.
Brianna arregalou os olhos.
- Calma! Ele contou apenas que você teve um pesadelo e que estava usando uma camisola desenhada especialmente para minar todas as boas intenções de um homem e sua moral.
- Imagine! Era apenas uma camisola comum e batida. E não pedi a ele que a tirasse de mim!
Lang assoviou e olhou para os lados. Do rubor, Brianna passou para a palidez.
- Não me admiro que ele esteja subindo pelas paredes.
- Tire-o do meu apartamento! Hoje!
- O mais rápido possível, prometo. Até lá use pijama!
- Usarei uma armadura - ela sibilou.
Assim que Lang se afastou, Brianna sentiu vontade de gritar de raiva. Como Ahmed pudera comentar com outra pessoa o que se passara ente eles? Com se atrevera?
Passou o dia praguejando e bufando. Até a hora de voltar para o apartamento estava em ponto de ebulição.
- Como pode? - gritou ao abrir a porta.
Ahmed desligou a televisão e encarou-a.
- Como pude o quê?
- Como se atreveu a contar àquele bisbilhoteiro que me viu de camisola?
- Eu não comentei. O que houve entre nós foi muito íntimo e ofenderia meu senso de honra divulgá-lo a outros.
- Mas ele disse...
- Sim?
Ahmed lhe parecia sincero. Agora perigoso. Ela hesitou.
- Lang disse que você que sair daqui porque está subindo pelas paredes por minha causa.
- Estou - ele confirmou com um sorriso que a deixou confusa. Depois se levantou do sofá, tirou a bolsa de suas mãos e o casco. - Sente-se e tome um café. Fui eu que fiz. Por ser a primeira vez, acho que ficou ótimo.
Ela não conseguia imaginar Ahmed fazendo um café. Mas era verdade. Estava ótimo.
- Eu só disse a Lang que não estava gostando do risco de permanecer aqui.
- Por causa do problema com a compra das comidas?
- Porque você é desejável demais - ele declarou solene. - Não conhece os homens. Não sabe das artimanhas que um homem, mesmo honrado, pode empregar quando a paixão o sega. O que houve entre nós ontem, no hospital foi muito perigoso. Você está vulnerável a mim e eu a você.
- Eu sei. Mas se não foi você quem contou a Lang sobre a camisola, como foi que ele... As Câmeras?
- Não, não há câmeras no quarto. Eu mandei que meus próprios homens o examinassem para ter certeza. Não queria que alguém pudesse espioná-la enquanto dormia.
- Obrigada
- Onde guardou a camisola?
- Eu a lavei e pendurei perto da janela para secar. Oh...
- Um binóculo, sem dúvida. Lang não permitiria nada, além disso. Seria uma violação à sua privacidade.
- Espero que esteja certo. Sinto-me enjoada só em pensar que alguém pudesse ter visto... ouvido...
- Você não sabe quase nada do mundo. Há homens que não pensam em outra coisa se não em mulheres. Mas é melhor esquecermos esse assunto. Beba o seu café.
- Suponho que você tenha muitas. Por causa de sua posição, é claro. Os diplomatas vivem entre os círculos sociais mais elevados, e você não é feio.
- Obrigado.
Ela tornou o último gole.
- Nunca tive muito tempo para encontros. Tinha de cuidar da casa e de Tad. Além disso, os rapazes não se interessavam muito. Eu era muito magra. Depois aconteceu a cicatriz. Eu me achava horrível.
- E agora? - Ahmed provocou.
- Acho que você foi muito delicado.
- Eu tinha muito mais em mente do que delicadeza. Rápido, Brianna. Você é extremamente desejável. Não paro de pensar em você, dia e noite. É por isso que pedi para me levarem para outro lugar. Um envolvimento entre nós poderia levar a conseqüências trágicas.
- Você deve conhecer muitas mulheres dispostas a lhe dar aquilo que quer.
- Talvez.
- Eu não pretendo me despir e ir para a sua cama, Ahmed. Por que tem tanto medo?
- Porque só em pensar nessa possibilidade, minha cabeça está rodopiando. Não estou conseguindo mais resistir a você.
- Eu jamais me comportaria...
O toque do telefone os interrompeu. Ela atendeu, ouviu por um minuto e ficou mortalmente pálida.
- Brianna o que houve?
- Tad. Ele piorou. Preciso ir correndo para o hospital.
- Você não está em condições de dirigir. Pegue o casaco.
Ele chame um táxi. Como o telefone estava grampeado, assim que desceram Lang já estava a postos. Sem dizer uma palavra, abriu a porta e levou-os.
O corpo franzino de Tad estava se debatendo. Brianna tentou segurar-lhe as mãos por um momento, mas logo rompeu em pranto. Ahmed abraçou-a e tentou confortá-la. Não a deixou nem depois do médico sedá-la.
- Como ela está? - Lang quis saber quando Ahmed saiu finalmente do quarto.
- Nada bem. É forte e corajosa, mas não está conseguindo resistir. O estado do garoto é grave. Ele pode morrer.
- E se isso não acontecer?
- Poderá sair do coma - Ahmed respondeu esperançoso.
- Foi o médico que afirmou. Os movimentos desordenados são uma evidência de frenética atividade cerebral. Por Brianna, rezo para que o menino se recupere.
- Quando saberemos a resposta?
- Logo, eu espero.
Foi o que aconteceu. Minutos depois. O médico ria e chorava quando chamou Ahmed.
- Venha ver com seus próprios olhos. Depois poderá acordar Brianna e lhe contar.
No quarto, o menino estava de olhos abertos, enquanto uma equipe de médicos o examinava. Sua expressão para Ahmed era de curiosidade.
- Ele vai ficar bom? - Ahmed indagou.
- Com o tempo e os devidos tratamentos ficará perfeito!
Ahmed correu para dar a notícia a Lang. Em seguida foi até o quarto onde Brianna dormia.
- Acorde querida - sussurrou sem se dar conta do modo como a chamara. - Acorde.
- Brianna abriu os olhos com esforço.
- Tad? Tad já se foi?
- Não! Ele acordou! Ele vai ficar bem!
Ela apertou as mãos que Ahmed lhe estendia e se sentou.
- Graças a Deus!
Enquanto Brianna chorava, Ahmed a manteve junto ao peito, depois ajudou-a a se levantar.
- Devagar, querida. Apóie-se em mim.
Sustentada por Ahmed, ela entrou no quarto de Tad. Ao vê-la, o menino pestanejou e tentou sorrir.
- Irmã?
A voz do garoto estava estranha, mas o médico garantiu que voltaria ao normal.
- Tad. Oh, Tad, eu te amo tanto. Agora você poderá ir para casa. Nós ficaremos juntos outra vez. Faz tanto tempo. Eu vinha visitá-lo quase todas as noites.
- Eu sei. Eu ouvia sua voz.
Brianna rio de felicidade.
- Ouviu doutor? Eu disse!
- Quem é ele? - Tad indicou Ahmed.
- É Pedro, nosso primo de Chihuahua.
- Não temos primos em Chihuahua - o menino murmurou.
- Esqueceu-se do tio Gonzáles casado com tia Margie?
Brianna mentiu os lábios apertados.
- Não me lembro muito bem.
- Não faz mal. Com o tempo você se lembrará. Agora descanse.
O menino fechou imediatamente os olhos.
- Ele ficará bem. Não se preocupe - o médico garantiu.
- O senhor tem certeza?
- Absoluta. - O médico se dirigiu a Ahmed. - Leve-a para casa e lhe dê estes dois comprimidos. Ela precisa dormir.
No carro, Lang e Ahmed conversavam muito, mas Brianna não prestou atenção. Estava exausta demais e tonta. Lang os levou até a porta do apartamento. Dentro, Ahmed a fez tomar imediatamente os comprimidos com um copo d’água.
- Obrigada - agradeceu. - Por tudo que fez.
- Não fiz nada.
- É o que você pensa. Boa noite. Acho que vou dormir.
- Durma bem.
O efeito foi tão rápido que ela caiu na cama e dormiu vestida.
Três minutos depois, Ahmed foi espiá-la. Sorriu. Parecia ser seu destino bancar o valete. Despiu-a e colocou a camisola. Pensou em lhe tirar a calcinha, também, mas acabou resolvendo não exagerar. Quando acordasse, Brianna ficaria furiosa.
Adormecida, ela estava ainda mais vulnerável. Os lábios entreabertos, a respiração lenta e profunda. Era tão frágil. Ele precisava ser mais paciente, colaborar de alguma forma com ela e não criticá-la tanto.
Depois do que acontecera, a mudança para outro lugar estava fora de cogitação. Com Tad em casa, ela precisaria ainda mais dele.
A sensação era nova e estranha. Nunca se sentira necessário a alguém antes, a nível pessoal.
De repente quando começou a se afastar do leito, Brianna segurou-lhe a mão e a levou de encontro a seio.
- Fique. Não vá.
Ele tornou a sorrir. Brianna certamente ficaria surpresa ao acordar.
Para não perturbar seu sono, afastou-se apenas o suficiente para se despir. Então se deitou ao lado dela e aninhou-a entre seus braços. Ela encolheu-se por um momento ao sentir o contato de seu corpo quase nu. Algo a que não estava acostumada. Mas logo relaxou e se entregou confiante, ao seu carinho.
À noite para ele não seria das mais confortáveis, Ahmed pensou, mas, por outro lado, não se lembrava de outra ocasião em que sentira tanta paz.

CAPÍTULO 7

Brianna sentiu um peso sobre seu braço. Virou-se e seu rosto foi de encontro a um travesseiro quente e musculoso. Deveria estar sonhando. Estendeu a mão e acariciou o que deveria ser um bichinho de pelúcia. Fez uma pausa e tornou a acariciá-lo.
- Devagar, chérie - sussurrou uma voz em seu ouvido. - Carícias assim são muito perigosas logo pela manhã.
Ela abriu os olhos e viu um par de olhos negros se derramando nos dela. Sentou-se na cama como se tivesse levado um choque. Ahmed estava ao seu lado. O lençol o cobria apenas até a cintura. O torso estava inteiramente nu. Assim como o dela, Brianna descobriu dali a instantes, puxando o lençol até o pescoço.
- A idéia foi sua - Ahmed esclareceu. - Sentiu calor e tirou a camisola. E o resto. Depois se enrolou em si mesma como uma gata e se aconchegou a mim. Em seguida voltou a dormir. Confesso que eu não consegui. Passei a noite entregue à pior tortura a que um homem pode ser submetido.
- Os tranqüilizantes - Brianna se desculpou. - Não estou acostumada a tomar remédios. Eles provocam, algumas vezes, um comportamento estranho em mim.
- Eu notei. Você me fez um pedido irrecusável.
Brianna cobriu a cabeça com o lençol.
- Calma! Não aconteceu nada.
- O que você está pensando de mim! Minha reputação está arruinada.
- Ainda não - Ahmed caçoou. - Mas se ainda estiver tão disposta quanto ontem à noite, eu estou pronto a atendê-la.
- Oh!
Ele estirou os braços e riu.
- Foi uma revelação. Confesso que não resisti ao calor e maciez do seu corpo. Para poder senti-la com toda a intensidade, tirei minha roupa, também. Não imagina o quanto lutei comigo mesmo para não ir em frente. Você estava deliciosamente sensual.
- Quer dizer que não está usando nada nem uma cueca? - Brianna arregalou os olhos.
Ele rolou para o lado e se apoiou sobre o cotovelo.
- Nada.
Ela ficou imóvel. De repente começou a morder o lábio.
- Preciso me levantar.
Ahmed fez um gesto de concordância.
- Não posso sair da cama com você me olhando desse jeito.
- Como poderia deixar de olhar se estou diante da mulher mais cativante que já conheci? Você é uma obra de arte.
- Não adianta dizer palavras lisonjeiras. Não quero que me olhe.
- Prefere que eu me levante primeiro, não é?
- Por favor.
- Você é uma garota terrível, sabia? Esconderá os olhos com as mãos. Então, quando eu me levantar, não resistirá à curiosidade de ver como um homem fica quando sente desejo por uma mulher, e espiará entre os dedos.
- Pare com isso! Eu não irei espiá-lo!
No mesmo instante, Ahmed jogou o lençol de lado, levantou-se e alongou o corpo. Brianna, que até então conservara as mãos sobre os olhos, fez exatamente o que Ahmed previra.
Seu coração disparou no peito, a garganta secou. Ahmed virou de frente.
- Não devemos nos envergonhar de nossos corpos - ele murmurou, permitindo que ela o fitasse à vontade.
Ela não disse uma palavra. Seus olhos se abriram cada vez mais.
- Você me lisonjeia com seu interesse, chérie. Por outro lado, está ficando cada vez mais difícil eu praticar o autocontrole. - ele se virou e vestiu a cueca e a calça do pijama.
Quando tornou a olhar para Brianna, ela estava coberta novamente com o lençol, até os seios.
- Ainda continua tímida. Por quê? Nós dormimos juntos.
- Não foi bem assim.
- Dormimos nos braços um do outro sem qualquer roupa, como amantes.
- Mas não somos!
- Seremos - ele declarou com um sorriso. - A idéia me deixa aliciando de prazer. Você é feita de seda e cetim. É doce, inocente e ao mesmo tempo corajosa. O que mais um homem poderia pedir da vida?
- Não serei sua amante - Brianna afirmou, de repente.
- Nem eu poderia lhe pedir para representar uma parte tão pequena em minha vida.
Ela ficou intrigada. O que Ahmed estava insinuando?
- O que você quer, então?
- O que você sussurrou em meu ouvido ontem à noite enquanto dormia.
- Mas eu não me lembro de nada!
- No momento oportuno, você se lembrará. Se vista enquanto eu preparo o café. Tad deve estar impaciente para vê-la.
Brianna começou a rir.
- Tad! Então não foi um sonho?
- Não. Vamos, levante-se.
Ele saiu e fechou a porta atrás de si. Ela pulou da cama e correu para o banheiro. Antes de alcançá-lo, porém, a porta do quarto tornou a abrir. Ahmed a fitou de um jeito que jamais esqueceria.
- Pare com isso!
Ele balançou a cabeça, riu e fechou outra vez a porta.
- Não pude resistir. Agora, apresse-se.
Enquanto tomava uma ducha, Brianna pensou que nunca se sentira tão feliz e excitada. Sua vida adquirira um novo alento, e Ahmed fazia parte dela.
Os olhos de Tad se iluminaram ao vê-la. Sua aparência era melhor. O novo quarto que lhe deram também era muito mais acolhedor, sem aquele mundo de aparelhos e fios. As faces estavam mais coradas, a fala mais inteligível.
- Oi, primo - ele cumprimentou Ahmed com um sorriso.
- Bom dia, priminho. Sente-se melhor?
- Muito melhor. Mas estava preocupado com Brianna. Disseram-me que ela precisou ser medicada.
- Já estou nova em folha - Brianna garantiu. - Com os remédios que me deram, dormi a noite inteira como um bebê.
- Perdoe-me pelo susto que lhe dei.
- Vamos, não fale mais nisso. É tão maravilhoso vê-lo acordado, disposto, conversando comigo. Tad, você é tudo o que tenho no mundo.
- E eu, cherie? - Ahmed cochichou às suas costas, acariciando-lhe os cabelos.
Ela olhou imediatamente no fundo daqueles olhos negros e corou.
- Quando poderei sair daqui e ir para casa? - Tad perguntou ansioso, interrompendo o colóquio.
- Preciso perguntar ao médico. Mas prometo que não lhe darei sossego enquanto não o liberar - ela prometeu.
Só que não foi tão fácil assim persuadir o Dr. Brown a dar alta ao garoto. Enquanto novos exames não fossem realizados e os médicos
tivessem certeza do estado físico e mental de Tad, ele teria de continuar no hospital. Animou-a bastante, contudo, saber que o apetite de Tad estava excelente. O médico chegou a brincar que ela precisaria preparar o bolso para as compras de supermercado.
Desde que passara a noite com Brianna nos braços, Ahmed se convenceu de que o casamento seria a única solução. O desejo que sentia por ela crescia a cada dia. Ele precisava não apenas de seu corpo perfeito, mas de seu coração caloroso e de seu espírito forte. O problema envolvendo as relações do seu país com os Estados Unidos seria resolvido depois. O fato de ele escolher uma americana como esposa poderia, inclusive, facilitar os negócios entre as duas nações. Longe de ser um problema, o casamento poderia se revelar uma grande vantagem.
Quanto mais pensava no assunto, mais convencido Ahmed ficava de que essa seria uma sábia decisão.
Enquanto Brianna conversava com o irmão, ele chamou Lang de lago.
- Você precisa encontrar logo os assassinos. Não posso mais perder meu tempo.
- Você e Brianna brigaram novamente?
- Não se trata disso. Desejo ir para casa e me casar.
Lang ficou chocado, mas tentou não dar demonstração.
- Não acha que é uma decisão muito repentina?
- Já estou em idade de me casar a muito tempo. Achava que poderia esperar mais, mas com toda essa trama assassinatos eu me dei conta de minha própria vulnerabilidade. Não posso deixar meu povo sem um herdeiro. Quanto mais penso, mais acredito que meu cunhado esteja envolvido no plano para acabarem comigo. É o único membro da minha família que poderia se beneficiar com minha morte. Além disso, ele tem contatos e pode receber o apoio de um grande número de oficiais, em troca de benefícios, sem dúvida.
- Você já mencionou isso uma vez e nós tratamos de investigar seu cunhado. No momento há elementos infiltrados em suas operações esperando para surpreendê-lo em qualquer movimento em falso.
- Espero que não demore muito. Agora que tomei a decisão, mau passo esperar para realizar o casamento.
- Acho que devo lhe dar os parabéns, então - Lang apertou a mão do árabe, pensando no quanto Brianna sofreria ao saber.
- Outro detalhe. Enquanto esta charada persistir, precisaremos de um apartamento maior. Tad deve ter alta logo e não haverá espaço suficiente para nós três.
- Nós arrumamos uma casa segura perto de...
- Não serve. Mesmo que Brianna não desconfie, o garoto poderá estranhar.
- Tem razão. Outro apartamento, então, onde poderemos continuar vigiando-o sem despertar suspeitas. Tudo bem?
- Sim, obrigado.
Pela primeira vez, Lang percebeu que os modos do árabe haviam mudado. Ele parecia mais educado, mais maduro. Até mesmo lhe agradecera.
- Onde pretende se casar? Em Saudi Mahara?
- Obviamente terá de ser lã. Tenho deveres de Estado a cumprir. Se minha vontade contasse, preferiria uma cerimônia simples e tranqüila, mas algo assim íntimo seria impossível para um homem na minha posição.
- Compreendo. Bem, há muito trabalho a ser feito.
Antes que Lang se afastasse, Ahmed o chamou.
- Você parece triste. Sei que é solteiro. Tenha paciência. Um dia acabará encontrando, também, a mulher que o fará feliz.
- Eu já encontrei - Lang respondeu - mas, inteligente com sou, deixei escapar.
Brianna estava tão contente com a recuperação de Tad que não percebeu o tempo passar. Mais tarde, o comportamento curiosamente tenso de Ahmed despertou-a para a profunda preocupação. Sem saber o que fazer, ela deu um jeito para falar a sós com Lang.
- Ahmed está calado demais. Aconteceu alguma coisa que eu deva saber?
- Tem certeza que está preparada para ouvir?
- Meu irmão se salvou. Depois desse milagre acho que estou preparada para qualquer coisa.
- Espero que sim. Ele - Lang apertou os lábios e fez um gesto em direção a Ahmed, que lia uma revista na sala de espera - está ansioso para voltar para casa e se casar.
Casar. O coração de Brianna quase parou de bater ao ouvir a palavra. Não tinha percebido, até aquele instante, o quanto Ahmed significava para ela. Casamento. Um homem de sua posição certamente só poderia se casar com alguém de seu nível. Mais importante, de sua própria raça. O que o seu governo diria se um alto oficial árabe se casasse com uma estrangeira? Como pudera ser tão ingênua?
- Entendo - ela balbuciou. Havia se formado um nó em sua garganta. Foi preciso que engolisse várias vezes antes de conseguir falar. - Estive sonhando muito alto, não é, Lang?
- Brianna, eu sinto muito.
- Está tudo bem. Eu deveria ter me preparado. Deus do Céu, ele não poderia se envolver com uma mulher americana poderia?
- Sinto muito - Lang repetiu. Eu não queria ter lhe dado essa notícia.
Brianna respirou fundo e tentou se acalmar. O destino lhe propusera uma barganha. Tad em troca de Ahmed. O desespero lhe deu vontade de chorar. Depois de rir. Não passara de uma diversão para Ahmed. Enquanto ela se apaixonava, ele planejava se casar com outra. Nunca se sentira pior em sua vida.
- Preciso voltar para junto de Tad.
- O tempo é o melhor remédio - Lang observou as mãos nos bolsos, e o olhar triste.
- Eu sei.
Sua atitude para com Ahmed não mudou, ao menos ostensivamente. Continuou tratando-o com cortesia e delicadeza. À distância, porém, estava aumentando ao ponto de se tornar um abismo. Ahmed notava sua frieza e não entendia.
Lang não mencionou a conversa que tivera com Brianna a respeito do casamento iminente. Contou-lhe, porém, que o agente disfarçado como Ahmed, e que se alojara no melhor hotel da cidade, sofrera uma ameaça de atentado. A notícia fez com que sua preocupação aumentasse com relação à segurança de Brianna e de Tad. Se ele fosse descoberto, nada nem ninguém impediriam os terroristas de cumprirem seu objetivo. Nem de matar os inocentes que se atravessassem em seu caminho.
Ahmed e Lang acompanhavam Brianna todos os dias ao hospital. Ahmed, sentindo-a relutante em sua presença, não forçava uma aproximação nem um entendimento. Ela, por sua vez, sentia-o protetor e carinhoso, mas não mais amoroso e sensual. Talvez fosse melhor assim. No mínimo, porém, não sabia se devia se sentir grata ou triste. Ahmed, afinal, não teria a mínima consideração no sentido de lhe contar que havia outra mulher em sua vida.
Fora uma bênção que Tad, com sua animação, a compensasse pela dor da perda de Ahmed. Sentia-se fortalecida junto dele e não o largava por um único minuto de sue tempo livre.
No dia em que o médico lhe deu alta, ela dançou ao redor da cama.
- Eu já pedi a Lang que encontre um apartamento maior para que cada um de nós possa ter seu próprio quarto.
Não fora apenas isso que ele comentara com Lang, Brianna pensou, mas preferiu não tocar no assunto.
- Acho uma boa idéia.
- Você está estranha - Ahmed observou sem poder se conter mais. - Desde a noite em que dormiu em meus braços, não falou mais três palavras comigo.
- Eu pensei muito e decidi que foi um erro - Brianna respondeu, sem coragem de fitá-lo. - Não quero me entregar a uma relação sem futuro.
- O que está querendo dizer com “sem futuro”?
- Você entendeu. Não quero ser um brinquedo. Não quando você já tem outra mulher em seu país.
Ele desviou o olhar.
- Sou um homem sinto necessidade de ter uma mulher em minha cama, de vez em quando. Não vou me desculpar por ser humano.
- Não pedi que se desculpasse - ela retrucou. - Estou afirmando simplesmente que não seria a outra em sua vida.
- Isso está fora de questão.
- Ótimo. Ainda bem que nos entendemos.
Brianna colocou o carro em movimento. A seu lado, Ahmed permaneceu calado e pensativo. Os planos para o casamento já estavam em andamento e lá estava Brianna toda enciumada e zangada por causa de sua amante. Mas o problema já estava solucionado. Ele havia telefonado para Saudi Mahara e avisado a mulher que iria se casar. Dera-lhe dinheiro suficiente para viver com tranqüilidade até o último dos seus dias. Haviam se despedido como amigos. No entanto, Brianna estava recusando-o. Aparentemente não podia aceitar que ele tivera um passado. Isso o entristecia. Julgara-a mais compreensiva.
O pior é que Brianna ainda não sabia de tudo. Havia uma verdade que ela não descobrira e que poderia descobrir, sob o risco de não querê-lo mais, não tivera coragem para lhe contar. Planejara esperar, estudar as palavras certas, chegar o momento adequado. Talvez tivesse esperado demais. Agora ela não queira sequer falar de um futuro com ele.
Ahmed a fitou com tristeza. Brianna era muito jovem. Talvez não estivesse preparada para o que ele tinha para lhe dizer.
Lang encontrou um apartamento para eles no dia seguinte.
A mudança levou horas para ser efetuada, apesar da ajuda inestimável do pessoal da segurança de Ahmed. Ela jamais vira uma demonstração de tanto poder. Bastava Ahmed estalar os dedos para seus funcionários atende-lo. Mas, apesar de surpresa e quase incrédula, não teceu nenhum comentário. Ahmed que falasse sobre suas extravagâncias com a mulher com quem iria se casar. Ela não o queira. Ela não o queria mais!
Enquanto Brianna desfazia as malas, Ahmed aproveitou para conversar com Lang, em particular.
- O menino estará seguro conosco? Eu não posso submetê-lo a qualquer risco por nada no mundo.
- Não só ele, como você e Brianna. Estão tão protegidos como se estivessem em um abrigo antiaéreo há vinte andares no subsolo. O apartamento está cercado. Há escutas em todos os telefones e câmeras de televisão em todas as dependências. Para sua própria proteção - Lang acrescentou -, não se esqueça de memorizá-las.
- Acha que ainda preciso me esforçar nesse sentido? - Ahmed sorriu, amargo. - Depois que o irmão recobrou a consciência ela não tem mais interesse por mim. Eu me tornei o homem esquecido.
Lang não comentou, mas achou que isso era o melhor que poderia ter acontecido, uma vez que Ahmed estava de casamento marcado.
- Sinto muito. Sei como se sente - Lang respondeu os olhos distantes. - Eu próprio sou um homem esquecido.
Ahmed estranhou o desabafo. Lang nunca lhe fizera confidências.
- Eu tinha uma namorada e cometi um erro tentei me desculpar, mas era tarde demais. Agora não consigo mais me aproximar dela. Minha namorada passou a me odiar.
- É uma pena.
- Eu também acho. Bem, mas a vida continua. - Lang se levantou. - Devo deixá-lo agora. Estaremos por perto quando trouxerem o garoto. Lembre-se de ser discreto. Nada de encomendar lautos jantares.
Ahmed ergueu ambas as mãos para o céu.
- Talvez eu consiga comer os tais cachorros quentes. Afinal, esta é uma situação de emergência. O meu sósia é que deve estar se deliciando com os pratos de filé mignon e crepes de cereja.
- Uma das vantagens de sua “posição” - Lang zombou.
- Pois diga a ele para não se acostumar demais às finas iguarias. Sua “posição” é apenas temporária.
- Se quer mesmo saber, é o que todos nós pensamos. A solução está próxima, mais próxima de que imagina. Você tinha razão em suspeitar do seu cunhado. Mas, no momento, não posso lhe dizer mais nada.
- E quanto à minha irmã? - Ahmed quis saber.
- Ainda não sabemos.
Ahmed seguiu, preocupado, ao lado de Brianna, para o hospital. Ela estava muito bem-humorada. O chefe lhe dera folga naquele dia e as colegas do escritório haviam comprado um presente para Tad. Ele era grande e estava embrulhado. Elas não quiseram contar a Brianna o que era. Tad ficou ansioso ao saber.
- Eu o teria trazido até o hospital comigo - Brianna explicou -, mas era tão grande que não caberia no carro com nós três.

CAPÍTULO 8

Brianna ficou parada, no meio da sala, a mente se recusando a funcionar.
- Sua irmã acaba de recuperá-lo após três longos anos - Ahmed comentou salvando-a. - Nós achamos natural que esteja com um pouco de ciúme de dividi-lo com outra pessoa, ao menos no início?
- Puxa vida, Bri, eu não tinha pensado nisso!
Brianna se dirigiu a Tad e abraçou-o, os olhos fixos em Ahmed, cheios de gratidão. - Desculpe querido. É só por alguns dias, está bem?
- Claro. Eu não me importo. Todd pode esperar.
- Obrigada.
- De nada. Afinal, para que servem os irmãos?
Um desastre havia sido evitado, Brianna pensou aliviada.
Quanto tempo, porém, demoraria em surgir o próximo? Tad estava desconfiado. As perguntas certamente viriam. Ele era muito esperto. Embora ainda não a tivesse encostada a parede, seus olhos diziam tudo. A cada dia que passava, sua curiosidade com relação à Ahmed se tornava mais evidente.
- Tad está desconfiado de nós - Ahmed falou a Brianna ema noite, quando ficaram a sós na cozinha, após Tad ir para a cama.
- Sim, eu sei. Está sendo difícil para nós. Mas a solução não deve demorar, não é?
- Espero que não. Anseio pela libertação.
- Eu também.
- Você não olha mais para mim, Brianna - ele desabafou. - Ao menos não nos meus olhos. Eu tento encará-la, mas seus olhos estão sempre dirigidos a um ponto atrás dos meus ombros. Por quê?
Ela se pôs a lavar a louça. O apartamento novo contava com uma máquina para esta finalidade, mas a tarefa, de repente, lhe pareceu uma ótima desculpa para continuar não encarando Ahmed.
- Eu continuo a mesma. É impressão sua.
- Não, não é. Você nem sequer conversa mais comigo. Conte-me o que está acontecendo, Brianna. Você mudou desde que soube que eu tinha uma amante.
O impacto foi tanto que Brianna deixou um prato cair.
- Sua vida pessoal não me diz respeito. Aliás, falando em vida pessoal, eu soube que você ansioso por voltar para sua casa.
- Os deveres me chamam. Tenho responsabilidades das quais não posso fugir.
- Imagino que sim - Brianna respondeu com um fio de voz.
Ela continuava de constas para Ahmed, mas, sem que o visse, pôde sentir intensamente sua presença às suas costas.
- Você já viajou alguma vez? - ele perguntou, de repente, seu calor inundando-a.
- Uma vez, se um rápido atravessar de fronteira pode ser chamado de viagem - ela respondeu, sem coragem para se afastar e romper o tênue contato. - Estive El Paso, no México, quando ainda era criança.
- Sente vontade de conhecer outros lugares, outros países?
A voz macia penetrava suavemente em seus ouvidos. Todas as fibras do seu corpo vibravam à proximidade. Ela precisava se concentrar.
- Sinto. O mundo é imenso e eu adoraria conhecer ao menos um pouco dele. Tad também gostaria, tenho certeza. Mas até que ele se recupere plenamente e eu consiga economizar, levará muito tempo.
- Ele ainda é pequeno. Tem a vida toda pela frente.
- Ele gosta de você - Brianna afirmou.
- Também gosto dele. O garoto tem personalidade. Como a irmã.
As mãos de Ahmed enlaçaram a cintura de Brianna e a fizeram se curvar para trás. Ele encostou o rosto em seus cabelos. Sua respiração se tornou ofegante. Brianna não conseguiu se afastar.
Brianna não queria se mover. Tudo o que queria era fechar os olhos e se entregar à doçura daquele abraço.
- O que aconteceu conosco, chérie? - Ahmed sussurrou. - Porque se afastou de mim?
Ela mordeu o lábio até sentir dor.
- Somos muito diferentes.
- Diferentes ao mesmo tempo tão parecidos. Sou cristão, você sabe disso. Nunca aceitei a fé mulçumana.
- Sim, eu sei - ela respondeu, acariciando as mãos que pressionavam sua pele, agora com mais força.
- Gosto de música clássica e você também - Ahmed continuou. - Se estivesse ao meu alcance, preferiria viver uma vida mais simples.
- Por que diz isso?
- Não posso escolher. Tenho deveres e responsabilidades, conforme já disse. Muitas pessoas dependem de mim.
As mãos de Brianna haviam se tornado involuntariamente exigentes sobre as dele. Seu corpo tremia. Ela ergueu ligeiramente o rosto.
Ahmed não pôde se controlar. Sua boca procurou a curva do pescoço de Brianna. Beijou-a repetidas vezes, depois a mordiscou.
- Há Câmeras e microfones em todos os Cômodos. Inclusive neste.
- Tenha você percebido ou não, seus pequenos movimentos foram um convite para mim. Não foi possível recusá-lo. Mas você está disposta a divertir nossos observadores?
Brianna se afastou bruscamente, os olhos chocados.
- Foi você que começou!
O desejo o tornara rígido e zangado.
- Está sugerindo que eu a obriguei? Que a induzi ao pecado?
- Você induziria uma pedra a pecar com sua voz macia. - Brianna protestou entre os dentes. - Aposto que não teve uma amante, mas dúzias!
- Por que isso a interessaria? - ele respondeu com sarcasmo. - Não declarou, há poucos instantes, que minha vida pessoal não lhe interessa?
- E não interessa mesmo!
Os olhos azuis brilhavam como safiras no rosto contraído de dor e mágoa. Os de Ahmed faiscavam de desejo e frustração.
- O que quer de mim?
- Quero que vá embora! Quero que suma da minha vida!
Brianna exigiu.
- Com prazer. Farei isso assim que agarrarem os homens que estão tentando me matar.
- Estão tentando matá-lo, primo Pedro? - soou uma voz tensa atrás deles.
Ahmed se virou imediatamente. Tad, de pijama, parecia arrasado.
- Por que está acordado? - Ahmed perguntou gentilmente.