Um minuto com Diana Palmer - A Noiva do Rei - Leia Parte 4

- Não conseguiu dormir ou teve um sonho mal?
- Não consegui dormir por causa do barulho. Eu nunca havia ouvido minha irmã gritar antes.
- Comigo, no entanto, é algo comum - Ahmed retrucou.
- Não ligue - Tad murmurou. - Quando a conhecer melhor, verá que é uma pessoa incrível.
- Eu sei disso - Ahmed respondeu, encarando Brianna de um jeito que a fez corar até a raiz dos cabelos.
- Quem está tentando matá-lo? - Tad insistiu.
- Foi apenas uma figura de linguagem - Ahmed tentou disfarçar.
- Não, não foi. Eu já vi homens em outros apartamentos olhando as nossas janelas com telescópios. Também descobri duas Câmeras escondidas e um microfone no bocal do telefone. Ele está grampeado.
Os adultos se entreolharam, surpresos.
- Como você fez isso?
- Eu abri o bocal do telefone e vi. Gosto muito de assistir filmes policiais e de espionagem. Acho-os excitantes. Espero que não aconteça nada de mal com você, é claro, mas caso uma bala o acerte, eu saberei como acudi-lo. Vi um documentário, ontem mesmo, sobre primeiros socorros.
Ahmed escondeu o rosto entre as mãos e riu. Brianna resmungou.
- Oh, Tad, você não deveria ficar vendo esse tipo de coisas.
- Não tenho medo. Quando crescer acho que vou estudar medicina.
- Pois por enquanto, eu acho melhor que vá para a cama.
Brianna sorriu.
- Está bem, - o menino concordou, olhando ora para um, ora para o outro. - Vão começar a brigar outra vez, assim que eu fechar a porta do quarto?
- Não, eu prometo - Brianna garantiu. - Estou cansada. Também vou dormir daqui a pouco.
A caminho do quarto, Tad parou na frente de Ahmed e o encarou significativamente.
- Você não tem sotaque espanhol. Seu inglês é igual ao do ator Omar Sharif no filme Lawrence da Arábia.
- Você é muito inteligente e perspicaz - Ahmed elogiou. - Não se deixa enganar facilmente.
O menino inchou de orgulho.
- Obrigado. Isso significa que vão me contar exatamente o que anda acontecendo aqui?
- Não - Ahmed respondeu categórico.
Tad deu de ombros.
- Às vezes se ganha, às vezes se perde. Boa noite.
- Ele daria um bom diplomata - Ahmed comentou assim que o garoto se recolheu. - É observador e intuitivo.
- Pois espero que não siga essa profissão. Veja o que ela fez com você!
- Sua língua é afiada - Ahmed murmurou, - ninguém, muito menos uma mulher, já ousou falar comigo como você fala.
- Com medo de terem suas cabeças decepadas, provavelmente.
- No passado, essa punição seria uma possibilidade, mas hoje não. Você não tem a menor idéia sobre a cultura oriental, não é?
- Sei que seu país é dono de grande parte da reserva petrolífera do planeta e que todos a desejam.
- Acertou.
- Sei que possui um rei e um parlamento. Sei que ele foi criado após a Primeira Guerra Mundial depois de um desmembramento da Arábia. Sei também que vocês importam maquinários dos Estados Unidos e da Alemanha, que suas universidades são as mais antigas do Oriente Médio, e que a maioria de seu povo é mulçumana.
- Muito bem.
- Comprei uma enciclopédia há alguns meses. Aliás, ainda não terminei de pagá-la. Consultei-a assim que esta trama começou e não encontrei a foto do seu rei. Pesquisei em revistas e jornais de sucesso, também. Por que não exibem fotos do seu rei em lugar algum?
- Por causa dos riscos que a publicidade acarretaria. Nosso rei já sofreu outros atentados.
- Quer dizer que estão atrás de seu rei como estão atrás de você? - Brianna perguntou inocente.
Ahmed hesitou.
- Estão.
- Espero que ele esteja seguro.
- Pode apostar - Ahmed retrucou com ênfase. - Está bem guardado até demais.
No apartamento vizinho, vários agentes riam.
- O que está querendo dizer? - Brianna estranhou.
- A CIA o instalou no mais luxuoso dos hotéis com guardas por toda parte. Ele nunca comeu tão bem na vida. Quando sair de lá, deverá ter engordado uns vinte quilos.
Brianna riu. Era a primeira vez que ria em dias.
- Ele é bonito? Não acredito que existam reis bonitos.
- Se está querendo brincar, eu a convido para uma partida de xadrez.
- Sinto muito, mas não sei jogar.
- Eu ensino.
Brianna fez um movimento negativo com a cabeça.
- Estou muito cansada. Foi uma semana difícil. Para todos nós - acrescentou. - Você está abatido.
- Estou. Sinto-me cansado e também desapontado.
- Por quê?
- Eu tinha certas esperanças, mas elas deram em nada.
- Mas... E aquela mulher em seu país? - Brianna indagou perplexa.
- Ela era minha amante. O relacionamento acabou.
- Não estava me referindo a ela, mas à outra.
- Que outra?
- Aquela com quem você vai se casar! Brianna quase gritou.
Ahmed prendeu o fôlego. Não conseguia encontrar palavras adequadas.
- Então eu vou me casar?
- Lang me comunicou.
A expressão de Ahmed se tornou homicida.
- Ainda bem que aquele sujeito não está aqui neste momento e que não tenha planos para viajar ao meu país quando o enigma terminar. Tenho certeza de que ficaria muito interessante na ponta de uma cimitarra!
- Porque ficou tão zangado? Ele só me transmitiu a notícia.
- Só!
Da raiva, Ahmed passou a mais absoluta calma. Brianna estava com ciúmes. Estava magoada, também. Sua mudança de comportamento, de repente, fazia sentido. Ela o queria. Tudo daria certo. O alívio foi tão grande que uma paz celestial o envolveu. Precisava levar Brianna ao altar o mais rápido possível.
Não parou para pensar que seus planos poderiam não ser justos para ela. Sempre agira de acordo com seus próprios impulsos, sem levar em conta os sentimentos dos outros. Estava se comportando como sempre se comportara. A seu ver, não havia uma única razão pela qual Brianna pudesse recusá-lo. Ela se tornaria uma rainha. Seu irmão teria tudo que desejasse na vida.
- Meus planos para o casamento ainda não estão finalizados. - Ele informou friamente. - A noiva em questão ainda não foi participada.
- Ela te ama? - Brianna perguntou, antes que pudesse se controlar.
Seus olhos desmentiram qualquer negativa, Ahmed pensou. Aqueles olhos o fitavam com adoração.
- Sabe, chérie, eu acho que sim.
- Nesse caso, desejo felicidades - Brianna murmurou com um sorriso triste.
Ele não tinha forças para afastar os olhos dela. Brianna era tão linda.
- Sentirá minha falta quando eu voltar para meu país?
- Eu e Tad sentiremos.
- Eu também sentirei falta de vocês.
Que Brianna gostava dele, era óbvio. Mas e quanto a amar?
Seu sentimento era tão profundo assim? Inclinou-se lentamente para beijá-la. Era incrível, mas embora tivessem dormido em uma mesma cama e se entregue a carícia íntimas, ainda não haviam trocado um beijo.
Ela recuou.
- As câmeras...
Ahmed a tomou pela mão e puxou em direção ao banheiro.
- Para onde está me levando? Oh, não, aí não!
- É o único lugar da casa onde Lang não deve ter instalado câmeras ou microfones - Ahmed explicou.
Com as costas apoiadas contra a porta, Brianna se sentia excitada e ao mesmo tempo assustada.
- Não quero!
- Sim, você quer. Acha que eu estou traindo a mulher com quem pretendo me casar. Isso a faz se sentir culpada por aceitar meus carinhos.
Ela não teve de responder. A resposta estava escrita em seu rosto.
- Conforme eu pensei - Ahmed murmurou com um sorriso. - você é tão jovem, chérie. Tão pura...
Ao sentir o contato dos lábios mornos e do bigode macio, Brianna prendeu a respiração. Em seguida, com a ponta da língua, Ahmed tentou experimentar o interior da boca.
De tensos, os músculos e nervos de Brianna passaram a rígidos. Ele se afastou e tornou a beijá-la bem devagar, com toques suaves dos lábios. Quando a sentiu relaxar, tentou introduzir a língua novamente entre os lábios. Brianna não sabia sequer beijar. Era maravilhoso.
A idéia de fazer amor com uma virgem era excitante. Conforme sentia Brianna pouco a pouco corresponder e abraçá-lo. Primeiro timidamente, depois com paixão, ele sorriu. Seus corpos agora estavam pressionados um contra o outro. Ela não protestava mais. As carícias, então, foram se tornando mais ousadas.
Brianna agora abria a boca aos movimentos sensuais de sua língua. Seu corpo se submetia à pressão ardente de seu sexo firme. Lea se entregava às experiências amorosas. Dava-lhe tudo o que ele pedia.
Mesmo quando sentiu que Ahmed tentava separar-lhe as pernas com um movimento do próprio corpo, para senti-la com se fosse verdadeiramente sua amante, não se recusou. Apenas as roupas os separavam. Ele até se movia ritmicamente para lhe proporcionar uma idéia de como seria o momento supremo.
Era quase tarde demais para interromper o que haviam começado. Ele não conseguia se afastar e ela não queriam que ele se afastasse.
- Por mil razões, não pode ser - Ahmed disse trêmulo. - O prazer está se tornando urgente demais, e doce demais. Tudo o que preciso fazer é nos livrar das roupas. Não é certo. Não quero que me conheça completamente, de pé, contra a porta de um banheiro. Deixe-me parar enquanto posso. Estou excitado demais para ser gentil. Você sentiria dor.
Ele beijou-a no rosto, com gentileza, para fugir da tentação. Depois a abraçou e beijou os olhos.
No início ela tremeu muito. Depois se acalmando. Não sentia vergonha do que fizera. Relutante, abriu os olhos.
- Você não sabe nada sobre homens - Ahmed afirmou rouco. - Acredita realmente que eu já experimentei tanto desejo e paixão por alguém? Brianna, só uma vez na vida um homem sente uma emoção tão avassaladora, e isso se tiver sorte. Pela magia dos nossos sentimentos, não quero transformar nossa relação em uma simples entrega de corpos sobre uma cama.
Ela corou.
- O que sinto por você não é apenas sexo.
- Como você não quis mais se aproximar de mim, depois da noite que passamos juntos, eu pensei que tivesse considerado nosso impulso um erro e decidido me esquecer.
- Eu tenho vivido em fogo desde aquela noite - Ahmed confessou. - No início eu não parava de pensar em despi-la e aliviar a dor que você me provocara. Aquelas idéias, porém, me envergonham. Eu não podia querer apenas algo tão físico, sabendo o quanto você era frágil e vulnerável.
- Foi por esse motivo que passou a me ignorar?
- Foi única arma com a qual eu pude me proteger. Depois nos mudamos, e Lang instalou câmeras e microfones por toda a parte.
- Mas você me trouxe ao banheiro.
- Onde recuperei a razão a tempo - ele a lembrou. - Gosto demais de você para usá-la, por mais que a queira. Um homem que se preze, por mais inflamado que esteja, precisa se controlar ao extremo se quiser dar prazer a uma virgem. Ele precisa imitar o vento sobre o deserto. Ser lento, suave e delicado até que ela esteja preparada para recebê-lo.
Brianna sentiu o sangue lhe ferver nas veias e abaixou os olhos.
- Você ainda evita olhar para mim. Por quê?
- Porque ainda sinto um pouco de vergonha.
- Mesmo depois de termos dormido juntos, sem qualquer peça de roupa para nos cobrir?
- Não nos tornamos amantes.
Ele puxou a cabeça de Brianna de encontro ao peito e acariciou seus cabelos.
- Nos tornaremos em breve, mas não como conspiradores que precisam se esconder pelos cantos.
- Não estou entendendo.
- Acha que sou um miserável, Brianna? Acha que eu poderia fazer amor com você se tivesse uma mulher esperando em casa, prestes a se tornar minha noiva?
Ela não havia parado para pensar sobre isso. A curiosidade a invadiu.
- Mas Lang me contou que...
Ele a fez se calar com um rápido beijo.
- Lang lhe disse que eu estava impaciente para terminar logo com essa charada porque queria me casar. Eu ainda quero, e o mais breve possível, mas haverá uma série de obstáculos e dificuldades até chegar esse dia.
Brianna sentiu um arrepio. Sob suas mãos, o coração de Ahmed bária com força. Incapaz de se controlar, ela começou a desabotoar a camisa de seda.
- Adoro tocá-lo.
- Tenha paciência - ele pediu.
Ela ergueu os olhos e, dessa vez, não os afastou.
- Acha errado?
- Sim. Tenho planos para me casar com alguém do meu país, embora a cerimônia precise ser realizada lá. Faço parte do governo de Saudi Mahara. Não posso me casar em segredo. Você entende?
- Sim. Isto é, não.
- Brianna, eu quero me casar.
- Com quem?
- Com você, é claro. - Um beijo impetuoso os uniu. - quem mais é a dona de todos os meus pensamentos? Brianna, case-se comigo!

CAPÍTULO 9

Enquanto Brianna tentava se convencer de que ouvia realmente Ahmed pedi-la em casamento, ele assaltou sua boca com voracidade. Qualquer tentativa de raciocínio abandonou-a de vez. Correspondeu ao beijo com toda a emoção que sentia e abraçou-o entre ondas de prazer.
- Você está me matando - Ahmed protestou baixinho.
- Você pediu que eu me torne sua esposa. Eu estou dizendo que sim...
Brianna tomou a iniciativa de beijá-lo. Emocionado, Ahmed a levantou nos braços e aprofundou o beijo.
De repente, uma voz grave os alcançou.
- Sinto que é meu dever avisá-los de que apesar de não termos instalado câmeras no banheiro, colocamos um microfone.
Palavras em árabe foram proferidas.
- Acho melhor não pedir que o tradutor entre nesta linha.
- Lang caçoou. - Meus parabéns aos dois. Poderiam, agora, fazer o favor de saírem do banheiro? Alguns de nós estamos com a respiração suspensa.
Ahmed puxou Brianna imediatamente para fora. Estava furioso. Ela, no entanto, sentia uma vontade imensa de rir.
- Ele foi correto em nos avisar antes que o constrangimento pudesse ser maior.
Ahmed tornou a praguejar e ela a não entender.
- Você me ensinará árabe quando nos casarmos?
- Só se o Lang estiver bem longe.
- Eu ouvi isso - declarou o agente.
- Desligue o microfone, Lang - Brianna ordenou. - Estou tentando aceitar uma proposta de casamento.
Após um risinho e votos de felicidades, Brianna e Ahmed ouviram um clique.
- Você tem certeza? - Brianna indagou temerosa. - Os problemas serão tantos. Seu povo não gosta dos americanos, não é verdade?
- Meu povo gostará de você - Ahmed afirmou.
- E se o rei não lhe der permissão para se casar comigo? - Brianna insistiu preocupada. - ele tem esse poder não tem?
- Ele poderia dificultar as cosias, se quisesse, mas eu lhe garanto que isso não acontecerá. Ele ficará encantado com você.
Brianna sabia que Ahmed estava exagerando, mas o elogio a deliciou.
- Espero que sim. - ela fez uma pausa. - Nós teremos de morar em Saudi Mahara?
Ele assentiu com um movimento de cabeça.
- O tempo todo?
- A maior parte. Viajo muito no desempenho de minhas funções, mas a cidade de Mozambara, a capital, é onde está localizada minha residência. Espero que você aprenda a amá-la como eu amo.
- E quanto a Tad?
- Ele virá conosco, é claro - Ahmed respondeu categórico, como se outra alternativa estivesse completamente fora de questão.
- Ele terá de se afastar de suas raízes. Eu também. Precisaremos aprender outros costumes. Outro idioma...
- Aspectos que serão facilmente contornáveis, se você me ama bastante.
Brianna o fitou e viu certo receio naqueles olhos. Ela também sentia um pouco de insegurança diante do futuro. Mas isso não importava.
- Eu te amo o bastante. Eu te amo mais do que a mim mesma.
Ahmed atraiu-a de encontro ao peito. Seus braços queriam sentir o calor de Brianna, queriam tê-la permanentemente. Ele nunca considerara a necessidade de ter alguém sempre ao seu lado antes. Mas estava ficando mais velho e Saudi Mahara precisava de um herdeiro.
- Gosta de crianças, Brianna?
- Gosto.
Ele respirou fundo.
- Eu precisarei de um herdeiro. É meu dever dar um ao país.
- Engraçado. - Brianna sorriu. - Eu sempre julguei que fossem os reis que já nasciam com essa missão. Nunca ouvi falar em ministros. De qualquer modo, a exigência será bem vinda. Adoro bebês.
Ahmed estava por demais tentado a revelar toda a verdade, mas temia que Brianna entrasse em pânico. A verdade aumentaria suas preocupações com relação a um provável atentado.
O medo, talvez, a fizesse recuar em sua decisão. O melhor seria esperar até que os problemas fossem resolvidos.
- Venceremos os obstáculos juntos. Ele tornou a abraçá-la.
Brianna pressionou o corpo contra o dele e aspirou profundamente o perfume exótico de sua colônia.
- Tenho vinte e dois anos - contou, distraída.
- Sim, eu sei.
Ela ficou imediatamente curiosa e riu.
- Como vim a saber, não vem ao caso. Vá descasar. É tarde.
- Estou cansada, mas não acredito que conseguirei dormir.
- Ao menos deite-se.
Após um longo beijo de boa noite, cada um foi para seu quarto.
Lang não poderia se mostrar mais arrependido quando chegou ao apartamento, na manhã seguinte. Brianna precisou segurar Ahmed pela mão. Provavelmente não aconteceria nada entre os homens, mas não custava garantir.
- Desculpem o mal-entendido. Perdoe-me Brianna. Quanto ontem à noite, eu resolvi que seria melhor avisá-los enquanto ainda havia tempo. Não há outra saída. Todos os cômodos precisam ser vigiados.
- Quanto mais cedo acabar essa história, melhor será - Ahmed afirmou, seco.
- Todos nós estamos torcendo para isso, vocês acreditem ou não. Nenhum agente dormiu esta noite.
- Vocês não se organizam para revezamento? - Brianna estranhou.
- Os turnos são de doze horas. A mão-de-obra é escassa em nosso meio. Somos agentes federais, lembra-se.
- Falhas da democracia - Ahmed zombou.
- Ao menos não corremos o rico de sermos decapitados em praça pública, caso não façamos um bom trabalho - Lang contra-atacou.
Ahmed se ofendeu.
- Não mando executar ninguém há uma década. Somos uma nação em desenvolvimento. Até permitimos passeatas de protesto, como os ocidentais.
- Lembro-me muito bem da última passeata - Lang comentou.
- A repressão foi inevitável. Eles tentaram invadir o palácio.
- De que vocês estão falando? - Brianna interveio.
- Da sua nova pátria - Lang replicou e encarou Ahmed.
- Assim que derrubar os obstáculos diplomáticos - Ahmed prometeu -, e ter certeza de que ela não será assassinada junto comigo a caminho de Saudi Mahara.
- Entendo - Lang concordou. - Agora, se me dão licença, vou tomar um café e tirar um cochilo.
- Alguma novidade? - Ahmed perguntou.
- Várias. Vocês terão companhia esta noite. - Lang se dirigiu a Brianna. - Você acredita que poderá sobreviver a uma intensa vigilância policial não apenas do lado de fora do apartamento, mas também em seu interior?
- Claro. Desde que não precise atirar em ninguém.
- E seu irmão?
- Ele também.
- Não se preocupe sobre tiroteios. Nós não os exporemos a perigos.
- E quanto a você? - Brianna quis saber.
Lang deu de ombros.
- Estou acostumado. É para isso que sou pago.
- Apesar de sua tendência à bisbilhotice, eu detestaria vê-lo machucado - Ahmed acrescentou.
- Saberei me cuidar. Temos quase certeza de que os homens farão o atentado esta noite. Estaremos prontos para recebê-los. Com um pouco de sorte, os apanharemos e poremos um fim nessa prisão de vocês. Até o final da semana, acredito que poderão se colocar a caminho de casa.
- Assim espero - Ahmed murmurou com um olhar que Brianna não entendeu. Não continha apenas preocupação com o atentado. Havia algo mais.
O dia custou a passar. Ahmed e Tad se dedicaram a ler revistas científicas trazidas por Lang, enquanto Brianna saía, a contragosto, para trabalhar. Sua mente não conseguia se concentrar nas tarefas de rotina. Pensava no perigo a que todos eles estavam expostos e, especialmente, na proposta de casamento de Ahmed. Queria se casar com ele. Amava-o. Mas não se sentia preparada para enfrentar as complicações de um casamento com um estrangeiro.
Em sua hora de almoço, foi até a biblioteca pública e pesquisou todos os livros que encontrou sobre Saudi Mahara. Era uma nação tão pequena que mal constava na geografia mundial. Havia um livro sobre os costumes árabes com um capítulo dedicado ao papel da mulher nessa sociedade. Copiou-o. Talvez ele lhe proporcionasse subsídios para sua nova vida. Para Ahmed, também, seria melhor se a esposa tivesse conhecimento do comportamento que seria esperado de sua parte. Não que ela fosse usar véu e andar atrás dele, é claro.
Quando chegou em casa encontrou Ahmed e Tas discutindo sobre física nuclear e quatro membros da inteligência governamental vasculhando em sua geladeira.
A visão a fez parar, mas Ahmed sorriu complacente.
- Eles não comem nada desde o almoço de ontem.
Os quatro se voltaram abruptamente. Um segurava um pacote de leite; outro um pote de iogurte. Os outros dois disputavam o último pedaço de queijo.
- Mais um pouco de paciência - Brianna pediu. - Farei uma travessa caprichada de espaguete.
Ela era rápida na preparação. Em poucos minutos estava distribuindo os pratos e talheres com o macarrão fumegante banhado em um rico molho a bolonhesa.
Lang chegou no momento em que ela começava a lavar a louça. Após as brincadeiras habituais, reuniu-se com os demais agentes e passou às instruções.
Queremos que vocês se comportem naturalmente. Façam o mesmo que tem feito todas as noites, desde que Tad saiu do hospital. Varremos todo o apartamento em busca de câmeras e microfones inimigos, e encontramos tudo limpo. De qualquer forma, tentem não se mostrar com alguma novidade. Tenha calma. Um de nós estará com vocês permanentemente.
Era verdade. Não se tratava de um filme sobre terroristas.
Estariam expostos a elementos com aramas automáticas no lugar de compaixão. Gente que matava com rapidez e eficiência, sem misericórdia. Ela olhou para Ahmed e Tad e cogitou que poderia perder ambos em questão de segundos. Empalideceu.
Ahmed colocou um braço ao redor de seu ombro e a fez apoiar contra ele.
- Não é hora de esmorecer - sussurrou - Você precisa ter coragem e a dignidade de uma ministra, mesmo sob ameaça. É o comportamento esperado.
Ahmed dizia isso porque era um alto oficial de seu governo. Ela não o desapontaria.
- Não estou preocupada por mim.
- Eu sei. Também não estou preocupado por mim.
Ele levou a mão de Brianna aos lábios.
- Vamos parar de namoros e tratar dos negócios? - Lang brinca, embora houvesse um tom sério em sua voz.
No mesmo instante, Ahmed a soltou e voltou para junto de Tad e das revistas. O menino estava bem melhor, mas ainda se apresentava pálido e um pouco fraco. Ahmed o estudou.
- Sinto-me orgulhoso em pensar que logo farei parte de sua família.
O menino sorriu.
- Eu também em fazer parte da sua. Nós vamos nos mudar para seu país?
- Com certeza.
- Eu adoraria aprender a cavalgar. Dizem que não há cavalos no mundo que se comparem aos árabes.
- É verdade - Ahmed concordou. - Os meus, em especial, são magníficos. Nasceram na Áustria e...
O ataque foi tão inesperado que Brianna cogitou se havia adormecido por alguns minutos e tido um pesadelo. A porta do apartamento se abriu com um estrondo e homens mascarados o invadiram, atirando à queima roupa.
Ahmed puxou Tad para o chão em um gesto espetacular enquanto Brianna se escondia atrás do balcão da cozinha.
Foi uma cena surrealista. A explosão dos tiros fazia pensar em fogos de artifício.
Brianna deitou-se no chão e se recusou a pensar em Ahmed e Tad. Enlouqueceria se algo de ruim houvesse acontecido com eles. Preferiu pensar que Lang e os outros agentes os salvariam.
Os tiros cessaram. Vidros se estilhaçaram. Em seguida ela ouviu passos muito rápidos. Eram Ahmed e Tad.
- Você está bem? - Ahmed ajudou-a a se levantar e abraçou-a. Seu rosto estava pálido sob a tez morena.
- Estou. E vocês?
- Estamos bem - Tad respondeu, a voz trêmula. - Caramba!
Brianna abraçou a ambos e sentiu uma vontade imensa de chorar. Aqueles homens estavam dispostos a matar Ahmed.
Todas as balas haviam sido destinadas a ele.
Lang surgiu, de repente, carregando sua arma automática.
- Não os deixe sair daí ainda - recomendou a Ahmed.
- Eles escaparam? - Brianna quis saber, temerosa.
- Não, estão todos aqui.
Brianna baixou os olhos. Não eram necessárias maiores explicações.
Ahmed aninhou-a entre os braços e a fez sentar de costas para a sala. Tad tentou espiar, mas Ahmed chamou-lhe a atenção com severidade.
- Eu só estava curioso - o menino se justificou.
- A curiosidade às vezes cobra um alto preço. Mas agora acabou. Lang havia me contato que os mandatários serão presos a qualquer instante. O atentado falhou.
- Seu rei ficará aliviado - Tad observou. - Você acha que ele está bem?
- Oh, sim - Ahmed respondeu distraído. - O rei nunca esteve melhor em sua vida.
Mais tarde, depois de apagados os sinais do ataque, Ahmed, Brianna e Tad foram levados para outro apartamento.
Brianna queria que Ahmed lhe contasse os detalhes da operação, mas ele insistiu que seria melhor se ela não se envolvesse.
- Confie em mim, chérie.
- Eu confio.
Com um beijo, ele a deixou e a Tad a fim de ter uma conversa particular com Lang.
O agente tentava relaxar após a terrível experiência, movimentando os ombros e o pescoço.
- Detesto ser eu a lhe dizer, Ahmed, mas sua irmã foi levada sob custódia. Não a incriminaram de fazer parte do grupo de terroristas, mas sim ao marido. O fato de a prenderem deve-se a uma medida de precaução apenas. Quanto a você sua presença no país é imprescindível. Deverá se preparar para partir com a máxima urgência.
- Eu sei. Mas Brianna ignorou minha posição. Não quero que ela saiba da verdade por enquanto. Preciso de algum tempo para solucionar os problemas. Não seria justo eu envolve-la e ao irmão. Já basta a experiência de hoje.
- Não é a primeira vez que você sofre um atentado - Lang declarou. - Seu pai foi morto e esse é o seu segundo.
- Os mandantes foram sempre os mesmos. Agora estão presos. Quanto a Yasmim, tenho certeza de que não tentaria me matar.
- Contrate um bom advogado para ela.
- É o que farei. Nosso sistema judicial é muito mais rigoroso que o seu e não evitamos a pena de morte, quando julgamos necessária, Os culpados serão punidos severamente. Você pode apostar.
- Provavelmente serão todos executados.
- Provavelmente. Só espero que Brianna não fique chocada demais. Temo que ela se recuse a se casar comigo quando descobrir sobre minha verdadeira identidade. É lamentável que eu não possa ter contado a verdade desde o início.
- A decisão foi nossa, e não sua. - Lang comentou.
- E isso importa? - Ahmed se afastou. - Estarei pronta para partir assim que amanhecer. Obrigado por tudo o que você e seus rapazes fizeram. Por mais que lhe paguem, nunca será o suficiente pelos riscos que enfrentaram.
- Fomos bem pagos, não se preocupe.
- Vocês são corajosos - Ahmed disse com sinceridade. - Se algum dia seu governo os dispensar, terão um emprego no meu.
- Obrigado. Talvez um dia eu possa precisar.
Tad teve dificuldade em dormir depois de tanta agitação. Ainda não sabia o que estava acontecendo, e não descasaria enquanto alguém não lhe desse uma explicação.
- Como você foi obrigado a participar da terrível experiência conosco - Ahmed falou, segurando entre suas mãos as mãos de Brianna e de Tad - é justo que saiba a razão. Eu sofri um atentado em meu país.
- Que não é o México.
- Que não é o México - Ahmed admitiu. - Vivo em Saudi Mahara, um país do Oriente Médio. Vim para os Estados Unidos, representando meu povo, a fim de fechar um contrato para compra de vários aviões da Ryker Air, a empresa para a qual sua irmã trabalha.
- Nosso governo precisava de um lugar para escondê-lo até que pudessem descobrir quem eram os assassinos que estavam tentando matá-lo - Brianna prosseguiu. - Acharam que disfarçá-lo de imigrante mexicano seria uma boa preocupação. Como ele e eu não nos entendíamos bem, e todos no escritório sabiam, os agentes consideram que o meu apartamento seria o último lugar que os inimigos pensariam em encontrá-lo.
- Vocês não se gostavam? Tad riu.
Ahmed olhou para Brianna com imensa ternura.
- Eu me senti imediatamente atraído por sua irmã, quando ela atirou um peso para papéis em minha cabeça. Foi à primeira vez em minha vida que alguém se atreveu atacar a minha pessoa.
- Acho difícil de acreditar - Brianna deu de ombros. - Você tem o dom de irritar as pessoas, quando quer.
- Ás vezes - Ahmed admitiu - No meu país, contudo, qualquer tipo de ataque a mim é considerado um crime.
- Seu rei deve tê-lo em alta estima - Tad afirmou.
Ahmed procurou mudar de assunto.
- Brianna, você não mudou de idéia sobre casar comigo?
Eu vi os livros que trouxe para casa sobre os costumes orientais.
Encontrará algumas informações que poderão perturbá-la.
- Não o suficiente para que eu retire minha palavra - ela respondeu com firmeza.
- De jeito nenhum - Tad confirmou. - Eu não vejo a hora de montar em um cavalo.
- Infelizmente ainda levará algum tempo - Ahmed comunicou, aproveitando-se da súbita oportunidade. Há algo que eu preciso lhes contar.
- O que é? Brianna perguntou tensa.
- Eu preciso partir amanhã. Sozinho.

CAPÍTULO 10

O Olhar de tristeza de Brianna e de Tad o emocionou, mas não o fizeram sentir-se melhor. Não tinha idéia de como Brianna reagiria no momento em que soubesse a verdade. Um casamento com um ministro estrangeiro poderia não ser tão difícil. Mas ele não era um ministro. Sua vida era regida por deveres e por um protocolo rigoroso. Poderia se adaptar a uma tão diferente de seus padrões? E se aceitasse essas condições apenas para o bem de Tad?
Ahmed não queria pensar sobre essa possibilidade.
- Será apenas uma separação temporária - garantiu. - Há alguns assuntos que exigem minha presença.
- As pessoas envolvidas na trama já foram capturadas?
- Brianna quis saber.
Ele assentiu com um movimento de cabeça.
- Uma delas é minha própria irmã.
- Sinto muito - Brianna se inclinou e deitou a cabeça no ombro dele.
- Eu também - Tad murmurou. - Mas por que ela faria isso? Vocês são irmãos!
- Não tenho certeza sobre seu envolvimento - Ahmed confessou. - Acredito que a idéia tenha partido de seu marido e não dela, mas preciso averiguar.
- Você não me respondeu - Tad insistiu.
Ahmed curvou os ombros como se carregasse um grande peso.
- A ânsia pelo poder enlouquece as pessoas.
- Mas você é apenas um oficial do governo... - Brianna estranhou.
- Preciso fazer algumas ligações - Ahmed olhou para o relógio na parede e se levantou abruptamente. - Vocês me dão licença?
Brianna soltou a mão de Ahmed com relutância. Ele estava lhe escondendo algum segredo e isso a perturbava.
- Claro.
Assim que ele se fechou em um dos quartos, Tad a fitou com seus astutos olhos azuis.
- Ele está escondendo alguma coisa.
- Eu percebi - Brianna concordou, preocupada. - Oh, Tad, espero que aquele tenha sido o último dos atentados.
Jantaram tarde aquela noite. Uma pizza que Lang lhes comprou.
- Este é o meu prato favorito - disse o agente. - Conheço todas as melhores pizzarias da cidade.
A conversa transcorreu amena entre ele e alguns agentes. Brianna se sentiu relaxar. Ahmed, contudo, estava quieto e taciturno. Todos, com exceção de Brianna e Tad, sabiam a razão. Mesmo que ele lutasse pela irmã, sua vida não seria poupada caso ela fosse julgada culpada de traição.
Terminado o jantar, quando os agentes se retiraram, Tad foi para a cama, discretamente, deixando Brianna e Ahmed a sós.
Mas havia, agora, uma nova distância entre eles. Sentado em frente a ela, no sofá, Ahmed parecia terrivelmente triste. Uma aura o envolvia, assim como acontecera na primeira vez em que o vira acompanhado de sua comitiva, na Ryker Air. Naquele dia ela acreditaria estar diante de um rei, tal arrogância de Ahmed. Ele se portava como se esperasse que todos se ajoelhassem a seus pés.
- Está arrependido por ter me pedido em casamento? - ela perguntou, abruptamente.
- Não. De todas as minhas recentes ações, a única da qual não me arrependo é você. Sinto prazer a seu lado.
- Ficará longe muito tempo?
- Não sei - ele respondeu sem conseguir encará-la. - Os líderes do movimento terão de ser punidos.
- Sim, é claro, mas o que você tem a ver com o julgamento? Os ministros de gabinete acumulam a função de juízes?
Ahmed se levantou e se pôs a andar de um lado para o outro.
- Você deveria ler aqueles livros. Eles a ajudarão a entender minha cultura.
- Amanhã - ela prometeu. - Deve ser excitante viver perto do deserto.
- Ele a perturba, que eu sei. Nosso casamento significará muitos sacrifícios a você. Talvez não esteja disposta a enfrentá-los.
O semblante de Brianna era como um livro aberto para Ahmed. Ele não gostou do que viu. Já sentia a falta dela. A separação seria penosa.
- Não me olhe assim! - ele se aproximou e abraçou-a, a boca se colando a seu pescoço. - Não posso suportar! Só estou pensando em sua felicidade!
- Então pare de se afastar de mim - Brianna sussurrou. - Você tem feito isso o tempo todo.
- Não por escolha - ele respondeu a boca se tornando cada vez mais sensual e exigente. - Eu te adoro. Eu te desejo. Você é minha vida.
Seus lábios se encontraram e ele a beijo devagar, com um carinho e uma doçura que a emocionaram. Ela o tocou com as pontas dos dedos, querendo sentir todos os traços de seu rosto.
As mãos de Ahmed, então, se moveram até o quadril de Brianna, pressionando-o de encontro ao seu corpo faminto.
Ela começou a gemer e a se contorcer.
Ele ergueu a cabeça e mergulhou em seus olhos. Mal podia se controlar. Estava ofegante de paixão.
- Você faria amor comigo, se eu pedisse? - perguntou rouco.
- Sim.
- Não há nada no mundo que eu deseje mais. Por outro lado, não posso arriscar o nascimento prematuro de um filho nosso. Não pode haver o menor motivo para um escândalo. Não pode surgir nenhuma dúvida sobre legitimidade.
A cabeça de Brianna estava girando, mas as palavras curiosas lhe chamaram a atenção.
- Está querendo dizer que eu não posso engravidar até nos casarmos?
- Exatamente.
Ela pigarreou.
- Eu tinha esquecido. Seu país é muito mais rígido do que o meu com relação à castidade da mulher.
- Temo que sim.
Um sorriso surgiu nos lábios de Brianna quando ela fez um sinal de aquiescência.
Enquanto procurava se acalmar, Ahmed se viu sorrindo, também.
- Tudo bem? Simples assim?
Brianna enrubesceu.
- Não foi tão fácil.
- Nem para mim - ele confessou. - Quero você com paixão. Mas temos de esperar até que as alianças estejam em nossos dedos.
Ele a beijou pela última vez.
- Vá para a cama, agora. Foi um dia longo e difícil para todos nós.
- Amanhã será pior. Você não estará comigo.
- Não será por tempo, prometo. Ficar longe de você, mesmo que por poucos dias, será um tormento.
- Eu providenciarei uma noite especial para quando você voltar.
- Não especial demais, espero - Ahmed brincou. - Temos nossas reputações a zelar.
- Pedirei que Lang chegue primeiro e instale microfones - ela cochichou.
Ele praguejou e ela riu. Era maravilhoso. Amava e era amada. Que essa felicidade durasse! Embora não quisesse admitir, tinha um pressentimento desagradável neste sentido...
Ahmed partiu na manhã seguinte com sua comitiva. Antes de sair, abraçou-a rapidamente e a Tad. De terno escuro, cercado de guardas de segurança, parecia um estranho.
- Ele é elegante, não? - Tad comentou.
Ele e Brianna estavam na janela olhando Ahmed subir na limusine branca com um segurança de cada lado. Lang e o motorista seguiam em frente. Chamavam a atenção de todos na rua. Não tinha importância. O perigo havia passado.
- Sim, é muito elegante - Brianna concordou.
- Acho que nós vamos gostar de viver em Saudi Mahara. O que você leu naqueles livros?
- Que é um país muito pequeno e que tem um rei. O nome dele é complicado. Embora as informações não sejam detalhadas, parece que se trata de um país moderno em comparação com os outros do Oriente Médio. Há indústrias e uma sociedade estruturada. As mulheres são relativamente liberadas. Aproximam-se dos moldes europeus.
- Com tanto petróleo, deve ser um país riquíssimo - Tad acrescentou. Brianna o achava ainda muito fraco e pálido. Depois da experiência sofrida no dia anterior, ela resolvera marcar uma consulta.
- Teremos de estar no consultório do Dr. Brown à uma hora - avisou.
- Por quê?
- Por precaução. Não faz muito tempo que você saiu do hospital e ontem se emocionou demais.
- Ahmed salvou minha vida. Eu teria morrido se ela não me jogasse no chão. Uma bala se alojou no lugar onde eu estava sentado. Espero que ninguém tente matá-lo novamente, quando estivermos morando com ele.
- Eu também, Tad. Eu também.
O médico ficou satisfeito com os progressos de Tad e os mandou para casa.
Na segunda-feira, Brianna voltou ao trabalho, deixando Tad com uma enfermeira, seguindo a sugestão de Ahmed. Durante o fim de semana, ele telefonou duas vezes, mas a conversa foi rápida e inibida de ambas as partes. E formal, por parte dele.
A distância entre eles havia aumentado e não apenas no sentido físico.
À noite, depois do jantar, Brianna estava fazendo uma toalha de crochê para a mesa da sala, enquanto Tad mudava os canais da televisão, sem se decidir por nenhum.
De repente, ele a chamou:
- Olhe para isso!
Brianna largou o crochê. Era uma procissão de homens uniformizados, a cavalo, em uma nação do Oriente Médio. No centro dessa pompa estava um militar, com uma faixa azul no peito, sentado em um trono.
- Meu Deus, é Ahmed! - Brianna exclamou. - aumenta o volume!
Tad obedeceu de imediato.
- Ao vê-lo, ninguém diria que acaba de sofrer um atentado - dizia o repórter - Sua irmã, a princesa Yasmin foi detida para interrogatório. Há dúvidas sobre seu envolvimento na trama. O julgamento do seu marido foi rápido. A execução ocorreu esta manhã. As notícias foram transmitidas pelo porá-voz do palácio real de Raschid.
A imagem foi substituída por uma outra notícia.
Palácio Real. Raschid. Ahmed, sentado em um trono.
- Ele não era um ministro. Ele é o rei de Saudi Mahara.
- Murmurou Tad.
A toalha de crochê resvalou no chão. Brianna tremia. Rei. Ahmed era um rei. Não era de se admirar que vivesse cercado de seguranças e que esperasse que as pessoas se curvassem ao estalar de seus dedos.
- Você acredita que ele tenha falado a sério sobre se casarem? - Tad perguntou, traduzindo em palavras seus piores receios.
- Como poderia? Ele é um rei! Ele nunca poderá se casar com uma mulher de outra raça!
- O rei da Jordânia se casou.
- Há muitos anos e sob diferentes circunstâncias. Isso... Isso muda tudo!
Brianna se levantou e correu para o quarto. Atirou-se sobre a cama e deu vazão às lágrimas ao reconhecer a verdade. Ahmed se divertia à sua custa. Não havia outra explicação. Ele a usara para se distrair enquanto estivera cativo.
Mais tarde, o telefone tocou. Ela foi até a sala e fez sinal para que Tad atendesse. Seus olhos estavam vermelhos inchados.
- Sim, ela está... ela está bem, obrigado. Sim, eu também. Claro. Eu direi a ela. Você, também.
Tad desligou, nervoso.
- Era Ahmed. Ele pediu para eu lhe dizer alô. Queria saber como você estava apenas. Eu estou tão triste.
- Eu também - Brianna murmurou, mordendo um lábio.
- Foi só isso que ele disse?
- Foi. Acho que ele não imaginou que nós tivéssemos visto a reportagem.
- Era uma transmissão da BBC de Londres - Brianna explicou. - ele deve ter pensado que não chegou aos Estados Unidos.
- Por que será que Ahmed não nos contou a verdade?
- Talvez não soubesse como falar - Brianna considerou. - Deve ter sido muito difícil para ele, acostumado ao luxo e a criados, viver como uma pessoa normal.
- Nunca tinha visto um rei antes - Tad disse, tentando aliviar o clima. - Terei o que contar aos meus amigos quando voltar para a escola, não?
- Sim
- Não o levou a sério não é? - De repente, Tad pareceu preocupado.
- Eu? - Brianna se forçou uma risada. - Não seja bobo! Gostei muito dele, mas nem por isso desejaria morar em um país estranho, sendo obrigada a aprender um novo estilo de vida.
- Nem eu. Isto é, eu gostaria de ter andado a cavalo. Além disso, Ahmed era um cara legal. Ele conversava comigo sobre ciências.
- Ahmed é formado em química e física.
- Isso explica tudo. Sabe, eu gostaria de fazer faculdade, um dia.
- Você fará, eu prometo. Estou tão contente em tê-lo comigo.
- Eu também. Está se sentindo melhor?
Ela fez um movimento afirmativo com a cabeça. Em seguida preparou uma xícara de café.
- Caso Ahmed telefone amanhã, diga que eu não estou.
Mas Ahmed não telefonou no dia seguinte, nem no outro.
Assuntos de estado o impediam, Brianna considerou. Queria se esquecer do canal de notícias, mas a atenção de saber sobre Ahmed era grande demais.
Suportou reportagens policiais, médicas e policiais, mas acabou vendo o rei de Saudi Mahara mais uma vez. Ele estava vestido com um traje típico de seu país. Uma linda jovem se apresentava a seu lado e segurava-o possessivamente pelo braço. Seu nome era Lilah, e não Yasmin. Portanto, não era sua irmã. Ele sorria para a mulher, cuja identidade acabou por ser revelada. Tratava-se da viúva do irmão de Ahmed que falecera em um acidente náutico, há alguns anos.
Aquela seria a última vez que sintonizava naquele canal. Ahmed deixara claro que não queria mais nada com ela. Dessa forma, o quanto antes voltasse para sua vida, melhor seria.
O primeiro passo foi mudar para o velho apartamento, que felizmente, ainda não havia sido alugado. Tad adorou. Agora teria um amigo com quem brincar. Nick, o menino que fizera amizade que Ahmed.
Apesar de deprimida, Brianna começou a viver novamente. Não podia se queixar. Tivera uma aventura com um rei e seu irmão se curara. O que mais poderia pedir da vida?
No escritório foi promovida a assistente da vice-presidência. Esperava trabalhar para David Shannon, o irmão de Meg, que era uma pessoa competente e simpática. Mas seu chefe era outro. Tarrant Blair, um homem com a mente de uma calculadora.
Ela não gostou do novo trabalho. O chefe não lhe tinha a menor consideração. Chegava tarde no escritório e passava a maior parte do dia pendurado no telefone, com seu consultor. Depois do expediente, embora soubesse que ela tinha de cuidar do irmão, resolvia lhe passar o serviço.
- como vão as coisas? - Meg Ryker lhe perguntou, um dia.
- Bem. Estou muito contente com o aumento que tive.
- E Tad?
- Cada vez melhor.
- Vocês dois devem estar se divertindo muito, agora que estão juntos novamente.
- Nós nos divertimos, mas ultimamente tenho chegado em casa tão cansada que não tenho condições para isso. De qualquer forma, o trabalho é interessante e o salário excelente.
Ela não conseguiu enganar Meg. Assim que encontrou o marido, a amiga perguntou:
- Por que Blair obriga a assistente a trabalhar até a noite? Será que ele não sabe que ela tem um irmão para cuidar e que ainda não se recuperou do trauma do atentado?
- Blair não devia obrigá-la a trabalhar nuca até tarde. Ele não tem tantas ocupações assim.
- Você poderia verificar?
- O que eu não faço por você?
- E por seus funcionários? É por isso que te amo tanto, Steven. Você é um homem maravilhoso.
Naquela mesma tarde, após uma séria conversa com o presidente da empresa, o chefe de Brianna deixou de prendê-la no escritório até a noite.
Três semanas após a partida de Ahmed, Brianna estava quase se sentindo ela mesma outra vez. Evitava se lembrar do passado e preparava-se para enfrentar o futuro. Havia um homem em seu departamento que parecia gostar dela. Desejaria poder encorajá-lo, mas seu coração a impedia.
Na sexta-feira, quando voltou do trabalho, Tad a fitou, preocupado.
- Brianna, você não pode continuar assim.
- Estou apenas cansada, Tad Como vão às aulas?
- Meu professor disse que sou inteligente e que logo recuperarei o tempo perdido. Ele disse que gostaria de falar com você. Eu espero que vocês se entendam - O menino sorriu, brincalhão. - ele é solteiro, tem trinta e oito anos e não é de se jogar fora.
- Tad!
- Estou pensando em contar a ele o quanto você é bonita.
Brianna riu, apesar da tristeza.
- O que você que para o jantar?
- Macarrão com queijo - Tad respondeu de imediato e seguiu-a até a cozinha. - Sinto muito que não tenha dado certo. Sei o quanto está sofrendo por causa de Ahmed.
A simples menção daquele nome a fez enrijecer.
- Não, não estou.
- Percebi que você tem chegado mais cedo - Tad resolveu mudar de assunto.
- Meu chefe, felizmente, resolveu trabalhar em horário normal. Oh, meu querido. É tão bom ter você em casa comigo. Estou muito feliz. Só que agora me deixe preparar o jantar, está bem?
Tad voltou para a sala e ligou a televisão. Logo depois a capainha tocou e ele foi atender. Brianna não foi verificar. Só podia ser Nick.
Alguns minutos depois, quando ela terminou de separar as panelas que queria, gritou para o irmão.
- Era seu amigo?
- Não - respondeu uma voz profunda e conhecida. - Não era.

CAPÍTULO 11

Brianna sentiu o coração disparar loucamente no peito. Ficou imóvel, com medo de acreditar em seus ouvidos.
- Ahmed? - murmurou.
- Sim.
Ela se virou, os olhos azuis imensos e incrédulos. Ele parecia abatido, como se as últimas semanas o tivessem esgotado. Havia Três homens ao seu redor. Todos muito altos e morenos. Tad os fitava, fascinado. Ahmed trajava uma roupa impecável. Um terno azul-marinho com risca-de-giz e camisa de seda branca.
- Oi - cumprimentou-o, hesitante. - Não sabia o que fazer. Deveria se inclinar? Deveria chamá-lo de “Majestade”?
Seu constrangimento deveria estar tão evidente que Ahmed a chamou.
- Brianna?
- Eu... você não quer sentar? Na sala? - Ela deu um passo para trás. - Tad e eu o vimos pela televisão. Ficamos contentes que os culpados tenham sido apanhados. Ainda bem que sua irmã era inocente. Você deve estar muito aliviado.
- Sim - ele respondeu, sério e formal.
Ela olhou em direção à sala. Tad voltara para lá e conversava animadamente com um dos seguranças.
- Tad está quase se recuperando. Logo poderá voltar para a escola.
- E você, Brianna como está?
- Estou ótima, como pode ver. - O sorriso forçado estava começando a magoar os músculos do seu rosto. - Aceita uma xícara de café?
- Iria bem.
Ela se virou para pia e depois para o armário. Apanhou uma xícara trincada e devolveu-a rapidamente. Precisava encontrar algo que servisse para um rei.
Ele se aproximou por trás e prendeu suas mãos frias nas dele.
- Não! - Ahmed suplicou. - Pelo amor de Deus, não me trate como a um estranho!
- Mas você é. - Brianna fechou os olhos para impedir que as lágrimas deslizassem por seu rosto, mas foi em vão. - Você é um rei!
Ele a fez girar e se amoldar ao seu corpo conforme se inclinava e se apossava dos seus lábios que tremiam sob os dele. Ahmed parecia ter se esquecido de que não estavam sozinhos.
As lágrimas chegaram até a boca de Brianna e ele as secou com beijos.
- Tantas lágrimas - ele sussurrou - Salgadas, quentes e doces, ao mesmo tempo. Elas me dizem que você me ama chérie.
Por alguns segundos, Brianna se entregou a mais um novo beijo, com todo o desespero da saudade. Mas não podia se esquecer de quem ele era. Afastou-se e baixou a cabeça.
Ele segurou-lhe a mão e a levou para junto do coração que batia muito forte e rápido.
- Ela apareceu na televisão - Brianna informou.
- Yasmin?
Brianna negou com um movimento de cabeça.
- Lillah? - Ahmed a obrigou a encará-lo. - E você pensou... Sim, já percebi. Seu rubor foi à resposta.
- Ela é linda.
- Mas não é você - Ahmed retrucou, simplesmente. Tocava-a ao rosto a todo instante, como se tivesse se esquecido de suas feições ou como se estivesse ansioso por revê-las. - Não telefonei porque achei muito difícil falar com você do outro lado do mundo. Eu precisava tê-la por perto, como agora, para poder fitá-la , para poder sentir seu calor, sua respiração, quando fala comigo.
- Eu pensei que você me esqueceria assim que chegasse em sua casa. Pensei que o que aconteceu seria lembrado apenas como um pesadelo.
- Eu não dormi - Ahmed declarou. Trabalhei sem cessar para a libertação da minha irmã. Foram dias difíceis e exaustivos. Assim mesmo não pude me esquecer do sabor de seus beijos e do calor dos seus braços.
Ele a segurou pelo queixo.
- Você disse, um dia, que me amava o bastante para arriscar a casar comigo. Ainda me ama?
Brianna hesitou.
- Ahmed você é um rei. Eu poderia... Eu poderia ser sua amante. Eu poderia fazer parte de sua vida nesses termos. Você não precisa se expor. Há tanta gente em seu país que não gosta dos americanos.
- Eu não quero uma amante. Eu quero uma esposa. Você. Quero que seja a mãe dos meus filhos, que tenha o meu nome, que seja minha rainha.
- Nossos filhos seriam meio-americanos.
Ele sorriu.
- Quer vantagem política maior do que essa? Não acha interessante eu ter uma esposa americana nessa situação complicada dos dias atuais? Já fiz todas as comunicações necessárias. Já acalmei os ânimos, convenci os adversários e aplaquei iras. Fiz tudo isso desde que parti - E já tomei todas as providências para o nosso casamento. - Ele a beijou, tirando-a do transe. - Até o vice-presidente da empresa, onde você trabalha, prometeu ir. E Lang, é claro.
- Não será uma cerimônia simples. - Ela mordeu o lábio. - Pare de fazer isso - Ahmed protestou. - Como poderei beijá-la, caso se machuque? Não, não será uma cerimônia simples. Será um casamento magnífico. O mundo inteiro o televisionará. Seu vestido de noiva será trazido de Paris, juntamente com a melhor costureira. Ela estará à sua disposição, no palácio, para fazer os ajustes necessários.
- Palácio - Brianna repetiu, sonhadora.
- Eu sou um rei, lembra-se? - Ahmed roçou seus lábios nos dela. - A maioria dos reis vive em palácios. A menos que sejam pobres, é claro. Eu não sou. Meu país é muito rico. Meu povo é cosmopolita e nossa economia excelente.
- Eu serei uma rainha!
- E Tad terá tudo que quiser. Contratarei os melhores professores do mundo para ele. Poderá estudar em Oxford, se quiser, quando chegar a hora de ingressar em uma faculdade.
Brianna se perguntou se estava sonhando. Chorava tanto, sofrera tanto, e agora Ahmed estava abraçando-a e dizendo que a queria como antes, que a queria para sua esposa.
- Só mais uma pergunta.
- Qual?
- Você me ama?
Os dedos de Ahmed deslizaram lentamente do rosto de Brianna até seus lábios, queixo e pescoço.
- Essas palavras só podem ser ditas na privacidade de um quadro - ele declarou, solene. - Tenha paciência. Eu nunca as disse antes.
Brianna sentiu um intenso calor. O brilho dos olhos de Ahmed dizia tudo o que ela queria saber.
- Diga que se casa comigo - ele repetiu. - Diga que sim.
- Sim, eu me casarei com você.
Nesse instante, ele beijou sua testa com uma ternura diferente.
- Agora - ele sussurrou - começa o protocolo.
Até aquele momento Brianna não tinha idéia do que seria um casamento com um chefe de Estado. Ela e Tad foram levados para Mozambara, a capital de Saudi Mahara, como pássaros migratórios. Não houve tempo para arrumar as bagagens, nem providenciar a mudança, nem fechar o apartamento. Os homens de Ahmed se incumbiram de todas as providências.
Tad foi instalado em uma suíte e um empregado pessoal foi designado para assisti-lo. Vestiram-no com roupas caríssimas. A qualquer espirro, poderia se consultar com o médico da corte. No dia seguinte, recomeçaria com as aulas, dada por um excelente professor. O luxo do palácio era tanto que ele se recusava a fechar os olhos. Seus menores desejos eram prontamente atendidos.
Preocupada, Brianna pediu uma audiência com o rei. Depois de sua chegada, não tornaram a se encontrar a sós. Era contra os costumes.
- Ele ficará muito mimado - protestou.
- Deixe que fique - Ahmed afastou seus temores. - Tad já sofreu muito para um menino de sua idade. Deixe que aproveite enquanto pode. E, por favor, pare de se preocupar.
Ela examinou a sala do trono. A mesma que vira pela televisão e que estava quase sempre cheia de consultores, potentados estrangeiros e políticos.
- Não podemos nem jantar a sós?
- Só mais uma semana - Ahmed prometeu, os olhos escuros de desejo. - Depois poderemos ficar sozinhos o quanto quisermos. Sonho com você todas as noites, Brianna.
- E eu com você
Ele respirou fundo.
- Poderia me deixar agora? Daqui a pouco estarei tão excitado que todos os guardas perceberão.
Brianna sufocou o riso e saiu sob os olhares curiosos de diversos homens.
Os dias demoravam a passar. Ela se entretinha com seu vestido de noiva que não poderia ser mais deslumbrante. Feito de renda, em Paris, deveria ser mais caro que um iate. Mas era preciso, conforme Ahmed lhe dissera. Estava se casando com um rei. A rainha Brianna precisava estar a altura de seu noivo. Rainha Brianna. Ela balançou a cabeça. Levaria muito tempo até se acostumar com essa súbita mudança em sua vida.
Tinha a companhia de Tad algumas horas do dia. O restante era dedicado aos sonhos do casamento que se realizaria nos jardins do palácio entre as flores e as fontes. Só em olhar para Ahmed, à distância, ela sentia o coração bater mais depressa. Logo estariam juntos sem olhos os espionando. O pensamento lhe tirava o fôlego.
O grande dia finalmente chegou. O buquê de orquídeas tremia em suas mãos geladas. Tad, tão ricamente vestido quanto o noivo no altar, procurava acalmá-la.
Jornalistas e repórteres se espalhavam por toda a parte. A multidão era enorme. O povo de Saudi Mahara, para sua alegria, não parecia relutante em saudar a rainha americana.
Ela manteve os olhos fixo em Ahmed conforme caminhava pela nave da igreja. O altar parecia inatingível. Estava aterrorizada. Quanto mais se aproximava, mais o terror aumentava. Estava reconhecendo, nas primeiras filas, as figuras mais ilustres do mundo. Pessoas que só pudera ver pela televisão. Mas, embora com os nervos em frangalhos, Brianna seguiu de cabeça erguida, o porte perfeito.
O orgulho de Ahmed era evidente. Ele lhe estendeu a mão e juntos se entreolharam perante o padre que conduzia a cerimônia.
Mais tarde, ela não se lembraria de muitos detalhes, exceto de que a emoção a fizera chorar. Depois de trocarem as alianças, e de serem pronunciados marido e mulher, Chorou. Ahmed segurou seu rosto com ambas as mãos e olhou-a de um jeito que jamais esqueceria. Depois se inclinou e beijou-a, diante da audiência que murmurava sua aprovação.
Foi um casamento de contos de fada. Os cumprimentos foram efusivos. Ahmed permaneceu a seu lado durante todo o tempo, apertando as mãos de todos os convidados. A recepção se prolongou por toda a noite. Brianna tinha certeza de que nunca se sentira mais cansada na vida. O que era uma pena, pois queria estar bem acordada e vibrante para o momento em que passaria a ser verdadeiramente a esposa de Ahmed. Para sua noite de núpcias.
No entanto, quando ele a levou par a suíte real e fechou a porta, ela quase rompeu em lágrimas.
- O que foi? - Ele perguntou gentil.
- Estou tão cansada. Foi um dia maravilhoso, mas muito longo, e eu queria me sentir forte e excitada...
Ele a fez calar com um beijo.
- Está me dizendo que está cansada demais para fazer amor, mas eu já sabia. Pobre pequena! Os deveres de uma rainha às vezes são difíceis de cumprir. Mas não se preocupe. Esta é apenas a primeira noite de toda uma vida.
-Mas eu quero você. Nós esperamos tanto!
Ele tornou a beijá-la.
- Vou despi-la agora e deitá-la em minha cama. Depois me despirei também e deitarei ao seu lado. Dormiremos nos braços um do outro. Pela manhã, quando você estiver bem descansada, faremos amor até que seu corpo se canse de receber o meu.
Ela se sentiu derreter ao ser despida do vestido e das peças íntimas. Tinha certeza de que não conseguiria ter chegado até a cama de ouro e prata, não fosse Ahmed carregá-la em seus braços.
Depois, enquanto ele se despia, ela tentou puxar o lençol.
- Não, Brianna - Ahmed pediu. - Deixe-me admirar você.
Ela corou no início, mas logo começou a sentir prazer sob o olhar cobiçoso e apaixonado. Seu marido estava quase que inteiramente nu, também exceto pela cueca, que tirou propositalmente de frente para ela. Sua ereção era tão potente que ela estremeceu.
- Não se preocupe com isso - ele murmurou. - Não vou exigir nada de você, esta noite, além de sua proximidade.
Brianna jamais imaginou que o desejo fosse uma cura tão poderosa para o cansaço. Não podia afastar seus olhos daquele corpo. Notando sua expressão, Ahmed respirou fundo e se encaminhou para o leito. Ao se ajoelhar sobre o colchão, Brianna estendeu a mão e tocou-o, tímida e involuntariamente. Ahmed pediu que continuasse.
Em seguida ele se deitou ao seu lado e beijou-a enquanto a ensinava a explorar-lhe o corpo todo com gentileza e sensualidade. As luzes do quarto permaneciam acesas. Antes, Brianna teria se sentido horrorizada ao prospecto. Agora achava natural. Seu marido a fazia se sentir amada e desinibida.
Depois de intensas carícias, Brianna não sentiu medo ao perceber que Ahmed a posicionava de forma a recebê-lo. Enquanto se tornava dono de seu corpo, ele beijou, parando apenas para deixá-la respirar no memento culminante. Conforme se sentia invadia pela dor, Brianna abraçou-o com força, as unhas se cravando em seus ombros.
- Antigamente - ele sussurrou, a voz rouca de paixão, - o lençol nupcial era estendido na janela, na manhã seguinte, para exibir as manchas de sangue. Não farão isso conosco. No entanto, quando trocarem os lençóis, amanhã, este será guardado e escondido para que, durante toda a nossa vida ninguém possa duvidar de que você jamais teve um amante antes de mim, e de que nossos filhos serão legítimos.
- Doeu muito - Brianna respondeu, quase sem voz.
- É natural - Ahmed respondeu, com um sorriso, - foi sua primeira vez. Mas o que te darei de agora em diante a compensará. Posso fazer uma demonstração?
Ela o sentiu se mover, os olhos não a abandonando nem por um segundo, até que a penetração a fez arquear o corpo e prender a respiração.
Nesse momento, Ahmed começou a saborear sua boca. Nenhuma experiência em sua vida lhe preparara para a súbita onda de paixão que a invadiu. O medo daquela sensação estranha foi ainda maior do que sentira há poucos instantes. Ele ergueu a cabeça e sorriu enquanto presenciava o orgasmo explosivo. Então, só então, depois de ouvir o pequeno grito da esposa, Ahmed se permitiu acompanhá-la no doce êxtase.
Por um segundo ou dois, ele sentiu que perdia a consciência. Mas o movimento suave de Brianna sob o peso do seu corpo o despertou. Fitou-a. Seus olhos estavam brilhantes e inquisitivos.
Ele não falou. Nem ela. Ela deslizou o olhar até sua boca e depois voltou a fixá-lo em seus olhos com uma expressão surpresa. Depois gemeu baixinho e moveu novamente os quadris, como se quisesse experimentar mais uma vez a pressão que ele exercera nas partes mais secretas de seu corpo.
Ahmed tocou-lhe o rosto e depois as coxas. Em seguida se deitou de lado, ainda unido intimamente a ela. Sem deixar de fitá-la, pressionou seus quadris com as mãos convidando-a a se mover. Não a largou até sentir que ela o aceitava por completo.
- Ahmed, Ahmed, eu te amo tanto!
- Eu também te amo, com todo o meu coração.
Trêmulo, Ahmed se deitou de costas, ainda levando-a consigo. Suas mãos acariciavam-lhe as costas e a conduziam a gentilmente ao ritmo.
- Sente-se sobre mim - ele pediu.
- Acho que não consigo - ela murmurou, corando.
- Você é meu amor. Minha vida.
- E você é o meu. Mas não posso! - ele escondeu o rosto, fazendo-o rir de sua timidez. Brianna era uma raridade.
- Você me encanta, chérie. Você me dá prazer.
Conforme falava, Ahmed a puxava firmemente de encontro ao seu corpo, fazendo-a arquejar.
De repente, ele parou e enrijeceu. Em seguida arqueou as costas em um movimento que a excitou ainda mais. O clímax foi ainda mais intenso que o anterior.
Finalmente relaxados, mas ainda abraçados, Brianna perguntou:
- É sempre tão bom assim?
- Só quando duas pessoas se amam - ele murmurou e beijo-a, - Dieu! Você me dá tanto prazer que chego a me sentir exausto. Então, de repente, quero tê-la outra vez.
Ela sorriu, deliciada.
- Estamos casados. Poderemos dormir juntos todas as noites.
- O mais provável é que fiquemos acordados a maior parte das noites, você que dizer.
- Gostei de fazer amor.
- E eu adorei fazer amor com você. Nunca havia amado uma mulher antes. Deitar-me com você foi a experiência mais maravilhosa da minha vida.
- Podemos dormir pertinho um do outro?
Ele a abraçou e finamente adormeceram.
Brianna descobriu que haveria dificuldades de adaptação apesar do amor que sentia pelo marido, mas nenhuma que não pudesse superar com paciência e dedicação. Ensinaram-lhe a se acostumar com o protocolo do palácio e a receber as esposas dos dignitários. Estava se tornando uma verdadeira rainha. Tad também não teve problemas com os ajustes à vida na corte. Conforme o Dr. Brown prometera, ele estava se desenvolvendo rapidamente e com saúde.
Alguns meses após o casamento, foi realizado um grande baile. Ela se vestiu com um modelo Dior preto com detalhes em ouro e prata, conforme a decoração do palácio, Seus cabelos haviam crescido e foram presos sob a tiara de diamantes e pérolas. Até os mais severos ministros do gabinete de Ahmed aprovaram sua apresentação.
Estavam dançando, ele e o marido, quando deparou com uma expressão perplexa em seu olhar e um toque exploratório em sua cintura.
- O que foi?
Ahmed sorriu enigmaticamente.
- Há algo que queira me contar? Algo que tenha guardado só para si até receber uma resposta do médico da corte?
Brianna olhou imediatamente para a cunhada, que sorria.
- Não culpe Yasmin – Ahmed pediu, - Ela sonha com uma dinastia, assim como eu. Conte-me.
- Ainda não tenho certeza – Brianna confessou. – Senti enjôo ao acordar, duas vezes esta semana, e minha menstruação está um pouco atrasada. Achei que ainda era cedo para te contar.
- Por quê?
- Tive medo de que não pudesse mais fazer amor contigo. Tive medo de que nos afastassem.
Ahmed parou de dançar e beijou-lhe os olhos.
- Teriam de me matar primeiro antes de tentar nos separa.
- Verdade?
- Eu não suportaria ficar sem fazer amor com você nem que estivesse em meu leito de morte.
- Apesar de minha inexperiência?
- Você está se tornando uma ótima aluna – ele sussurrou.
- Eu te amo!
- Eu também te amo – ele repetiu, ambas as mãos em seu ventre ainda liso, mas que atraiu muitos olhares curiosos e aprovadores.
*-*-*
O pequeno príncipe nasceu em um lindo dia de outono e as igrejas badalaram sues sinos em comemoração. Ahmed estava com o herdeiro Tarin nos braços, junto do leito de Brianna. Tad, ao lado dele. Brianna, cansada mas gloriosamente feliz olhava para os três seres mais importantes de sua vida.
Sentindo seu olhar, Ahmed ergueu a cabeça. Seus olhos estavam plenos de adoração.
- O tesouro do rei – Brianna murmurou.
- Sim, ele é, mas você ainda é a mais preciosa, meu amor – Ahmed declarou, entregando o filho à enfermeira, e se inclinando para beijar a esposa que sorria, radiante.


***FIM ***